Enquanto do outro lado do Atlântico, o estado norte-americano do Tennessee acaba de aprovar o “ido4life Traditional Marriage Day”, marcado para 31 de Agosto (sob proposta do pastor Lyndon Allen), o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado pelo parlamento francês.
A França é o 14.º país do mundo (em cerca de 200) a aprovar a união civil entre duas pessoas do mesmo género; Portugal aprovou-a em Junho de 2010; a Nova Zelândia fez o mesmo há poucos dias, mas felizmente a votação parlamentar acabou em cânticos de alegria e não em tumultos, como em Paris.
Num país apontado como sendo tradicionalmente renovador (passe a quase contradição de expressões), foram precisos sete meses de duras batalhas políticas para que casais do mesmo sexo pudessem dispor de direitos idênticos aos dos casais heterossexuais em matérias como a adopção ou a protecção do cônjuge em caso de morte, garantindo o direito à herança e à pensão de viuvez.
Esta foi uma das bandeiras eleitorais de François Hollande na campanha que o levou ao Palácio do Eliseu, não sem que este debate público tivesse suscitado reacções violentas por parte dos partidos da direita gaulesa, com os conhecidos confrontos de rua e as agressões de que foram vítimas vários homossexuais.
Estes desacatos entre os apoiantes do “não” ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e as forças policiais também se deveram, é bom dizê-lo claramente, à forma como Hollande tem conduzido a política económica em França. Descontentes e desesperançados, muitos franceses aproveitaram para deixar expressa a sua frustração pelo fraco desempenho do Presidente, à boleia de uma lei que é, acima de tudo, uma reforma legal e que poucas implicações terá no futuro da economia francesa.
imagem daqui. |
Talvez pelo facto de estar demasiado perto do centro dos acontecimentos, uma parte da França terá ignorado a importância da aprovação desta lei, apontada por diversos meios de Comunicação Social de outros países como uma das mais importantes neste capítulo desde 1981, ano em que François Mitterrand aboliu a pena de morte (em Portugal, a pena de morte foi extinta em… 1867).
Sendo a França um país maioritariamente católico, é interessante verificar como o laicismo do Estado acaba por causar tamanha controvérsia. Contudo, neste complexo tabuleiro de xadrez que é o entrelaçado das convicções pessoais, ideológicas e religiosas, vale a pena distanciarmo-nos um pouco da poeira ainda levantada pelas manifestações dos simpatizantes do “não” e citar a ministra da Justiça, Christiane Taubira, que classificou esta lei como “de liberdade, igualdade e fraternidade”. No fundo, é disso que se trata.
A minha crónica, no P3.