quinta-feira, 30 de agosto de 2012

As minhas manias.

Dou por mim, de todas as vezes que coloco uns phones, a confirmar qual o da direita e qual o da esquerda.
E a seguir a indicação, religiosamente.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

na hora de pôr a mesa.

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

José Puís Peixoto, A criança em ruínas.

[lá em casa, também éramos cinco; deve ser por isso que eu gosto tanto deste poema.]

Definição.

imagem vista aqui.


terça-feira, 28 de agosto de 2012

A banda sonora da minha noite.

"O idiota da esferográfica" *


Em 17 anos de "actividade" jurídica, adquiri e tenho, apenas, 2 Códigos Civis: o primeiro, comprado em 1995, quando entrei na faculdade; o segundo, em 2009 (igual ao da imagem), adquirido em pleno Mestrado, já que o velhinho CC que me acompanhava estava a desfazer-se de tanto uso e (literalmente) a desabar com tantos "enxertos" legislativos entretanto publicados.
Hoje, depois de feitas as as actualizações referentes à Lei do Arrendamento (foi uma tarde de "corta-e-cola"), cheguei à conclusão que deveria ter a coragem de decidir seriamente não comprar mais nenhum Código Civil (não tenho, mas deveria ter).
De 2009 até agora, já foram 9 os diplomas que alteraram o Código, o que dá uma média inferior a 6 meses entre cada alteração legislativa. Com tanta instabilidade e inconsistência legislativa, não há Código que aguente!



*o título é uma expressão do Ilustre Prof. Doutor Aníbal de Almeida, de quem tive a honra de ser aluna de Finanças Públicas, no meu 2.º ano, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra; identificava, naturalmente, o legislador. 

domingo, 26 de agosto de 2012

A justiça acima da vingança.

A 22 de Julho de 2011, a Noruega e todo o Mundo ficaram em estado de choque: um só homem, de 33 anos, assassinou bárbara e friamente 77 pessoas. Nos dias que se seguiram à tragédia, muito se soube sobre os pormenores horrendos dos crimes, sobre os seus fundamentos xenófobos e sobre a premeditação e o método utilizados pelo assassino.

A 24 de Agosto de 2012, decorrido pouco mais de um ano sobre o massacre, Andreas Breivik – o autor confesso dos atentados de Oslo e da Ilha de Utoya – conheceu a sua sentença, decidida por unanimidade pelos juízes que compuseram o Tribunal: passará os próximos 21 anos numa prisão de alta segurança, nos arredores de Oslo, e a pena poderá ser prorrogada indefinidamente se o assassino não abandonar as suas convicções xenófobas e for tido como socialmente perigoso.

Breivik foi considerado pelo Tribunal como “mentalmente são” e, por isso, imputável – essa era a grande questão a decidir, já que a autoria dos ataques sempre foi assumida. Considerado imputável, o extremista xenófobo foi condenado à pena máxima legalmente permitida pelo ordenamento jurídico norueguês; se tivesse sido considerado inimputável (um relatório psiquiátrico, elaborado no início do processo, considerou-o paranóico esquizofrénico), seria internado num hospital psiquiátrico para o resto da sua vida.

Apesar de uma declaração de inimputabilidade poder ter como consequência uma sanção de duração perpétua e, provavelmente, determinar o “esquecimento” da opinião pública relativamente a Breivik, uma sondagem recente, realizada pelo jornal Verdens Gang revela que cerca de 2/3 da população norueguesa pretendia ver o homem que abalou indelevelmente o seu país ser declarado “mentalmente são”, mesmo que isso lhe permita dar entrevistas e publicar livros, mantendo viva a memória de todo um povo.


Este sentimento, de justiça acima da vingança, revela muito sobre a nobreza do povo norueguês. Afinal, estamos perante um acto absolutamente abominável: na Ilha de Utoya, e em pouco mais de uma hora, o assassino disparou (segundo o que ficou provado) 121 tiros de pistola e 136 tiros de uma arma semi-automática, que ia recarregando em frente às suas vítimas, que esperavam sentadas para serem mortas. O desejo de castigo e sofrimento eterno para tão cruel algoz seria perfeitamente compreensível em todos quantos, até hoje, ainda não conseguiram perceber como teve este homem a coragem de praticar tal atrocidade. Mas este caso, a forma como o processo se desenrolou e o seu resultado, demonstram muito mais que isso.


Na verdade, demonstram antes de mais que os noruegueses acreditam na sua justiça. Assistiram à leitura da sentença cerca de 40 sobreviventes e familiares das vítimas, que ouviram, em silêncio, a pena aplicada a Breivik – nenhum suspiro, nenhum soluço; nenhuma exultação, nenhum lamento. Apenas um profundo respeito pelo Tribunal e uma aceitação sem reservas quanto à decisão dos juízes.



imagem daqui.
Mas não é apenas o povo norueguês que sai enaltecido deste desfecho. Também o sistema judicial norueguês deve ser elogiado, por ser confiável e sério. Recorde-se que o julgamento durou apenas 10 semanas, pouco mais de dois meses, tendo terminado e 22 de Junho deste ano. A sentença, com mais de 90 páginas, foi proferida em dois meses. Todo o processo fica, assim, concluído em pouco mais de um ano. Mas a rapidez da instrução e da decisão judicial não desconsiderou, em nenhum momento, a importância das vítimas e dos seus familiares nem o seu sofrimento. E, precisamente por isso, temos que, na sentença, são descritos com detalhe gráfico os pormenores dos crimes. Na sentença constam os nomes de cada uma das 69 vítimas da Ilha de Utoya (34 delas, com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos), cada uma das 8 vítimas mortais do atentado bombista no centro de Oslo e, ainda, cada uma das 8 pessoas que ficaram gravemente feridas na sequência destes assassinatos.



Não se trata de morbidez, mas de humanização das vítimas. É importante – é fundamental – que ninguém se esqueça de quem eram nem do que sofreram. Para que os que ficam possam seguir em frente, com a sua confiança no sistema jurídico reparada e com a certeza de que a ordem jurídica é inquebrantável, apesar de todas as violações que tenham lugar.



Uma das sobreviventes do massacre de Utoya, Emma Martinovic, teve o seguinte comentário ao conhecimento da sentença: “Agora, a vida pode verdadeiramente recomeçar.” A paz de espírito inerente a esta afirmação diz tudo. Que assim seja.

Publicado hoje, no Público.

A banda sonora da minha noite.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A banda sonora da minha noite.

The bucket list.


E eu que adoro listas - de livros, de filmes, de coisas feitas e coisas por fazer. Desta, 23 já cá cantam. Quase a meio da lista. Falta outro tanto. Haja tempo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A banda sonora da minha noite.


Nada de novo no telejornal 
Mais desemprego no nosso quintal 
Um homem farto de inflação 
Morreu com um ataque de informação 

 Já nada resta do que era de mim 
Há tanto tempo que eu não sei de ti 
E eles não passam na televisão 
Destas matérias do coração

Estouros, incêndios, inundações 
Epidemias, contradições 
Soam banais, em comparação 
Com estas matérias do coração 

E a locutora nem quer saber
Do meu amor, que já não me quer
O mundo descamba em informação
Alheio às matérias do meu coração 

Dois continentes que se davam mal
Chegaram a acordo no telejornal 
Fizeram as pazes na televisão
Eu e o meu amor é que não 

Estouros, incêndios, inundações
Epidemias, contradições
 Meros eventos sem dimensão 
Ao pé das matérias do coração
Ao pé das matérias do coração...

Miguel Araújo

Escravidão.

Teus mimos calor não têm,
Teu beijo é frio de gelo,
Não satisfaz, nem também
Me importa tê-lo ou não tê-lo.


O que me faz recebê-lo
Cativo do teu desdém,
é eu ter forjado o elo,
Da escravidão que me tem


A ti, preso, e que subjuga,
Quer seja rei ou pastor,
Desde o dia em que nasceu.


Desta sina não há fuga,
Mas na escravidão d'amor
O mais escravo sou eu.


António Xavier Cordeiro

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Ansiedade.

Quero compor um poema
onde fremente
cante a vida
das florestas das águas e dos ventos.

Que o meu canto seja
no meio do temporal
uma chicotada de vento
que estremeça as estrelas
desfaça mitos
e rasgue nevoeiros — escancarando sóis!


Manuel da Fonseca

sábado, 11 de agosto de 2012

Paraíso.

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

David Mourão Ferreira, Infinito Pessoal ou a Arte de Amar.

Dúvida metódica.


[Nada dura para sempre. Todas as coisas boas devem acabar...
E quando começam?]


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A banda sonora da minha noite.


If you search for tenderness 
it isn't hard to find. 
You can have the love you need to live. 
But if you look for truthfulness 
You might just as well be blind. 
It always seems to be so hard to give. 

 Honesty is such a lonely word. 
Everyone is so untrue. 
Honesty is hardly ever heard. 
And mostly what I need from you. 

 I can always find someone
to say they sympathize. 
If I wear my heart out on my sleeve. 
But I don't want some pretty face 
to tell me pretty lies. 
All I want is someone to believe. 

 Honesty is such a lonely word. 
Everyone is so untrue. 
Honesty is hardly ever heard. 
And mostly what I need from you. 

I can find a lover. 
I can find a friend. 
I can have security until the bitter end. 
Anyone can comfort me 
with promises again. 
I know, I know. 

When I'm deep inside of me 
don't be too concerned. 
I won't as for nothin' while I'm gone.
But when I want sincerity 
tell me where else can I turn. 
Because you're the one I depend upon. 

 Honesty is such a lonely word. 
Everyone is so untrue. 
Honesty is hardly ever heard. 
And mostly what I need from you.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A banda sonora da minha noite.


Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços
É verdade, eu não minto

E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
e te querendo eu vou tentando me encontrar

E nesse desespero em que me vejo
já cheguei a tal ponto
de me trocar diversas vezes por você
só pra ver se te encontro

Você bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
e te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar

Fernando Mendes / José Wilson / Lucas

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Oh, “Porto Menu” PQP? *


Doze, treze, catorze, quinze minutos de fama. Manuel Leitão conseguiu, com um grafito, colocar-se nas bocas do mundo (portuense, pelo menos) – os manuais sobre Andy Warhol já podem ir para a prateleira. Mas, neste caso, os 15 minutos de fama foram originados pelas piores razões, pois nem sequer lhe vale a célebre frase de Oscar Wilde: “só há uma coisa pior do que ser falado, que é não ser falado”. Explique-se: Manuel Leitão é director da publicação “Porto Menu” e fez publicar na primeira página do mais recente número a inscrição “Rio és um FDP”. Rui Rio sentiu-se (naturalmente) insultado e processou (obviamente) Manuel Leitão. Em tribunal, o arguido – recusando liminarmente a interpretação que, certamente, todos os leitores tiveram ao deparar com tão singular saudação ao autarca na capa da revista – descodificou as três singulares letrinhas: “Fanático dos Popós”.

Mesmo tendo em conta a miríade de interpretações a que a Língua Portuguesa se presta nas mais variadas situações, esta argumentação é, no mínimo, um insulto à inteligência de todos e, muito mais grave do que isso, à Justiça. Hoje mesmo, Rui Rio esteve em tribunal, com o único objectivo de esclarecer uma singela dúvida: se era, ou não, “fanático dos popós”. Enfim...

Por mais que se discorde das decisões e tomadas de posições políticas de Rui Rio – e eu discordo de muitas delas, muitas vezes –, a honorabilidade das pessoas não pode nunca estar em causa: há limites, nomeadamente os da urbanidade e da educação. Goste-se ou não da forma como o autarca, eleito democraticamente para três mandatos consecutivos, dirige os destinos da cidade do Porto, não há subterfúgios linguísticos que possam valer a este acto de muito mau gosto e de verdadeira má-educação. Para mim, não restam dúvidas: Rui Rio foi insultado e tem direito a ver reparado o seu bom nome publicamente e a um pedido formal de desculpas.

Tão grave atitude como a daquele que prevarica é a daquele que abusa da democracia e do Estado de Direito de forma tão despudorada. O sistema judicial português tem o dever de atender a todas as situações que possam configurar uma violação aos direitos de terceiros. Os processos judiciais devem percorrer todos os trâmites necessários ao apuramento da verdade e esclarecimento dos factos. Utilizar como estratégia de defesa judicial uma argumentação que apenas é própria de uma criança de 3 anos é desrespeitar a Justiça. Convocar um cidadão (neste caso, com responsabilidades políticas, mas um cidadão) para ir a tribunal confirmar ou desmentir se é “Fanático dos Popós” é uma atitude que deve envergonhar mais o tribunal que o visado.

É evidente que Manuel Leitão ofendeu Rui Rio. O próprio tribunal o considerou, em despacho proferido hoje à tarde. Tendo-o feito conscientemente, deveria também estar preparado para sofrer as consequências da sua atitude. Mas o destemor de Manuel Leitão parece não ir tão longe; por isso, atirou a pedra e, agora, tentou esconder a mão. Utilizando o estilo linguístico do próprio, podemos dizer que foi um menino maroto.

* Por que prevaricaste?

A minha habitual crónica, publicada na passada sexta-feira no P3.

Nota: A caixa de comentários a este post está fechada, porque neste blog funciona a ditadura da autora. Por isso, a todos vós que discordais da minha opinião mas que preferis atacar as pessoas, insultando-as ou distorcendo as suas palavras em vez de discutirdes civilizadamente ideias, aconselho-vos a irdes aqui.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A banda sonora da minha noite.

Meditação de regresso ao trabalho.

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.


Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.


Fernando Pessoa.

Agosto.