quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

In Memoriam


Out of the night that covers me
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is boody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

William Ernest Henley

Até sempre, Madiba.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

In Memoriam

Há pouco, ao ler isto, tive vontade de cá voltar.
Pelas vezes em que os seus poemas me consolaram, pelas vezes em que as suas palavras foram empáticas com os meus sentimentos. Pelas vezes em que o citei, fazendo minhas as suas palavras. Por tudo quanto me deu, e por tudo aquilo que dele fica, depois de tudo, depois da morte.
Obrigada, António Ramos Rosa, pelo que fizeste por mim.
Até sempre, meu amigo.

Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Quando vier a Primavera

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

(Poemas Inconjuntos, heterónimo de Fernando Pessoa)
Alberto Caeiro

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Capa negra de saudade.

Houve um tempo em que, na primeira quinta-feira do mês de Maio de cada ano, por volta desta hora, eu me preparava para uma noite muito especial. Calçava, com muito cuidado, as meias pretas; enfiava a saia justa e apertava, um a um, os botões da camisa alva. Fazia, concentrada, o nó na gravata preta, vestia o casaco da mesma cor e calçava os sapatos de salto. Colocava a capa longa, pesada e cheia de memórias sobre os ombros. Pegava na pasta e batia a porta de casa, rumo ao primeiro de uma série de jantares típicos com amigos vestidos com os mesmos trajes.
Voltava a casa quando a "minha" Sé Velha já estava pejada de gente, furando e empurrando como podia para voltar a entrar em casa.
À meia-noite em ponto, debruçava-me na janela do meu quarto, sobre o largo cujo chão era um negro mar de gente, e fechava os olhos aos primeiros acordes das guitarras portuguesas. Respirava fundo, na ânsia de absorver todo aquele ambiente.
Por tudo o que ali vivi e também por essas noites, Coimbra faz parte de mim. E hoje, particularmente hoje, eu sou filha do Mondego.

terça-feira, 30 de abril de 2013

A igualdade chegou ao casamento em França

Enquanto do outro lado do Atlântico, o estado norte-americano do Tennessee acaba de aprovar o “ido4life Traditional Marriage Day”, marcado para 31 de Agosto (sob proposta do pastor Lyndon Allen), o casamento entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado pelo parlamento francês.

A França é o 14.º país do mundo (em cerca de 200) a aprovar a união civil entre duas pessoas do mesmo género; Portugal aprovou-a em Junho de 2010; a Nova Zelândia fez o mesmo há poucos dias, mas felizmente a votação parlamentar acabou em cânticos de alegria e não em tumultos, como em Paris.

Num país apontado como sendo tradicionalmente renovador (passe a quase contradição de expressões), foram precisos sete meses de duras batalhas políticas para que casais do mesmo sexo pudessem dispor de direitos idênticos aos dos casais heterossexuais em matérias como a adopção ou a protecção do cônjuge em caso de morte, garantindo o direito à herança e à pensão de viuvez.

Esta foi uma das bandeiras eleitorais de François Hollande na campanha que o levou ao Palácio do Eliseu, não sem que este debate público tivesse suscitado reacções violentas por parte dos partidos da direita gaulesa, com os conhecidos confrontos de rua e as agressões de que foram vítimas vários homossexuais.

Estes desacatos entre os apoiantes do “não” ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e as forças policiais também se deveram, é bom dizê-lo claramente, à forma como Hollande tem conduzido a política económica em França. Descontentes e desesperançados, muitos franceses aproveitaram para deixar expressa a sua frustração pelo fraco desempenho do Presidente, à boleia de uma lei que é, acima de tudo, uma reforma legal e que poucas implicações terá no futuro da economia francesa.

imagem daqui.
Talvez pelo facto de estar demasiado perto do centro dos acontecimentos, uma parte da França terá ignorado a importância da aprovação desta lei, apontada por diversos meios de Comunicação Social de outros países como uma das mais importantes neste capítulo desde 1981, ano em que François Mitterrand aboliu a pena de morte (em Portugal, a pena de morte foi extinta em… 1867).

Sendo a França um país maioritariamente católico, é interessante verificar como o laicismo do Estado acaba por causar tamanha controvérsia. Contudo, neste complexo tabuleiro de xadrez que é o entrelaçado das convicções pessoais, ideológicas e religiosas, vale a pena distanciarmo-nos um pouco da poeira ainda levantada pelas manifestações dos simpatizantes do “não” e citar a ministra da Justiça, Christiane Taubira, que classificou esta lei como “de liberdade, igualdade e fraternidade”. No fundo, é disso que se trata.

A minha crónica, no P3.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

In Memoriam.



Guernica, 1937, Museo Reina Sofia.

Pablo Ruiz y Picasso
[25.10.1881 - 08.04.1973]


quinta-feira, 4 de abril de 2013

In Memoriam



Nothing in all the world is more dangerous than 
sincere ignorance and conscientious stupidity.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

To Mrs. M. B. On Her Birthday


Oh be thou blest with all that Heav'n can send,
Long Health, long Youth, long Pleasure, and a Friend:
Not with those Toys the female world admire,
Riches that vex, and Vanities that tire.
With added years if Life bring nothing new,
But, like a Sieve, let ev'ry blessing thro',
Some joy still lost, as each vain year runs o'er,
And all we gain, some sad Reflection more;
Is that a Birth-Day? 'tis alas! too clear,
'Tis but the funeral of the former year.
Let Joy or Ease, let Affluence or Content,
And the gay Conscience of a life well spent,
Calm ev'ry thought, inspirit ev'ry grace.
Glow in thy heart, and smile upon thy face.
Let day improve on day, and year on year,
Without a Pain, a Trouble, or a Fear;
Till Death unfelt that tender frame destroy,
In some soft Dream, or Extasy of joy,
Peaceful sleep out the Sabbath of the Tomb,
And wake to Raptures in a Life to come.

Alexander Pope

Para a M. B. no seu aniversário. Parabéns, miúda.

sexta-feira, 29 de março de 2013

É política, estúpido!

Sócrates voltou ontem à cena política. Regressou depois de quase dois anos e veio igual a si próprio: com o mesmo discurso, a mesma vitimização e a mesma interpretação truncada e manipulada da realidade.

Durante duas horas, Sócrates teve tempo para quase tudo: lamentou-se da crise internacional, que foi a única culpada da recessão portuguesa; criticou o Presidente da República, que acusou de criar conspirações para derrubar o seu Governo; apontou o dedo à oposição de direita, que rejeitou o que a Europa aprovou e forçou o país a pedir ajuda internacional; lastimou-se, com mágoa, da atitude do seu próprio partido, que permitiu que os opositores o atacassem; queixou-se dos jornalistas, que criaram cabalas sobre a sua vida privada e que mesmo ontem insistiram numa “narrativa” encomendada que o entrevistado, verdadeiro (e único) conhecedor da realidade e detentor da razão, foi forçado a “contraditar” várias vezes.

Pessoalmente, eu passaria bem sem Sócrates. Não lhe senti a falta neste tempo e não fiquei particularmente animada com este regresso. Até poderia ter seguido o conselho de alguns que, indignados com as petições on-line contra o regresso de José Sócrates, sugeriram que desligássemos a televisão; mas não. E ainda bem: enquanto via a entrevista, dei por mim a pensar que estes dois anos poderão ter-nos tirado muito (e tiraram demasiado!), mas deram à maioria de nós o conhecimento suficiente da realidade para não cairmos com tanta facilidade em engodos, sejam eles os de um mundo de fantasia ou os de um buraco negro.

José Sócrates continua manipulador, criativo nos seus artifícios e sempre fiel à velha máxima de que “a melhor defesa é o ataque”. Não respondeu a metade das perguntas que lhe foram feitas e, à outra metade, queixou-se de não lhe darem tempo para responder. Ao que parece, terá vindo mais culto; será provavelmente a única diferença que lhe reconheço. Tudo o resto, os portugueses já viram. E continuarão a ver, agora semanalmente.

Ontem, Sócrates pôs fim ao silêncio – assim denominaram a entrevista. Apresentou a sua defesa e contou-nos uma história, ainda que mal contada. Mas fez mais que isso. Ontem, Sócrates fez o seu discurso de tomada de posse. Não tenhamos ilusões: ele veio para ficar, mais presente do que nunca e sem pejo de qualquer espécie. Ontem, voltámos a ter um verdadeiro político em Portugal.

A minha crónica de ontem, no P3.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Regresso

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Manuel António Pina