quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Septembre arrive.




C'est en septembre
Quand les voiliers sont dévoilés
Et que la plage, tremblent sous l'ombre
D'un automne débronzé
C'est en septembre
Que mon pays peut respirer...

Mais en septembre
Quand je reviens où je suis né
Et que ma plage me reconnaît
Ouvre des bras de fiancée
C'est en septembre
Que je me fais la bonne année...
C'est en septembre
Que je m'endors sous l'olivier...

Please.




Sonhei contigo...

Sonhei contigo embora nenhum sonho
possa ter habitantes tu, a quem chamo
amor, cada ano pudesse trazer
um pouco mais de convicção a
esta palavra. É verdade o sonho
poderá ter feito com que, nesta
rarefacção de ambos, a tua presença se
impusesse - como se cada gesto
do poema te restituisse um corpo
que sinto ao dizer o teu nome,
confundindo os teus
lábios com o rebordo desta chávena
de café já frio. Então, bebo-o
de um trago o mesmo se pode fazer
ao amor, quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço -
terra, água, nuvens, rios e
o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência
da fontes. É isto, porém, que
faz com que a solidão não seja mais
do que um lugar comum saber
que existes, aí, e estar contigo
mesmo que só o silêncio me
responda quando, uma vez mais
te chamo.


Nuno Júdice

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Beleza Maior.

imagem vista aqui.

- Hoje, durante o meu passeio matinal, vi uma linda mulher... Meu Deus, que linda que ela era! (...)
- Sério, Senhor Spinell? Descreva-ma então.
- Não, não posso! Dar-lhe-ia uma imagem imperfeita dela. Ao passar, mal a vi; na verdade, não a vi. Apercebi-me, porém, da sua sombra esfumada, e isso bastou para me excitar a imaginação e guardar dela uma imagem de beleza. Meu Deus, que linda imagem!
A mulher do Senhor Klöterjahn sorriu.
- É essa a sua maneira de olhar para as mulheres bonitas, Senhor Spinell?
- Sim, minha Senhora, é; é muito melhor do que olhá-las fixamente na cara, com uma grosseira avidez da realidade, para no fim ficarmos com uma impressão falsa...

Thomas Mann, Tristão



Tardes de chuva.

imagem vista aqui.

Ditos.



Pensa-se hoje na revolução, não como maneira de se solucionarem problemas postos pela actualidade, mas como um milagre que nos dispensa de resolver problemas.

Simone Weil

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Alma portuguesa.


Almas vencidas,
Noites perdidas,
Sombras bizarras...
Na Mouraria
Canta um rufia,
Choram guitarras!
Amor, ciúme,
Cinzas e lume,
Dor e pecado...
Tudo isto existe,
Tudo isto é triste,
Tudo isto é fado.

O envelhecimento.


Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o significado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso é também velhice. Quanto já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer… Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente.

Sándor Márai, As velas ardem até ao fim

[Concluído hoje, à hora do almoço. Recomenda-se vivamente.]

Good morning.


For a good night sleep.

imagem vista aqui.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Histórias

Todos gostamos de acreditar em histórias felizes, mas acabamos por contar histórias tristes. É o paradoxo do artista. Aliás, penso que uma das funções da arte é parar com esse olhar sobre o que pode acalmar. É melhor ver aquilo que não nos sossega. No nosso mundo, há "tranquilizadores" por profissão - são os políticos, os teólogos, todos os que manobram a sociedade. Os artistas têm que «apanhar» os alarmes, dizer que não é bem assim, pôr no papel que quatro mil quilómetros de estrada em Portugal têm enormes buracos. É o papel da arte, é o livro do desassossego em suma.

Antonio Tabucchi, em entrevista a Sílvia Souto Cunha [publicada na Visão 555].























Ditos.



Deep down, I'm pretty superficial.

Ava Gardner

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A mio figlio

Ti ho generato col solo pensiero figlio
e non sei mai sceso nel mio corpo come una buona rugiada.
Però sei diventato un’ape laboriosa, hai fecondato tutto il mio corpo
e a mia volta son diventato tuo figlio, figlio del tuo pensiero.

Forse, quando morirò, partorirò tutta la dolcezza che mi hai messo nel primo sguardo
perché figlio, ti ho guardato a lungo, ma non ti ho mai conosciuto.
Figlio figlio mio sognato, figlio ti ho solo pensato
non sei mai sceso nel corpo come una buona rugiada
ti ho guardato a lungo, ma non ti ho conosciuto mai.


Alda Merini

Um Dia de Chuva


Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é.

Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos

Lampedusa: a morte a caminho da liberdade

A pequena ilha italiana de Lampedusa, situada no meio do Mediterrâneo, tem sido, nos últimos tempos, intensamente falada nos meios de Comunicação Social.

Infelizmente, essa publicidade não se deve ao seu clima ameno ou às belíssimas águas azuis que a circundam. Lampedusa é falada pelo elevado número de africanos que procuram, através do seu porto, entrar na Europa e, sobretudo, pela quantidade daqueles que acabam por perder a vida pelo caminho. Através dos media, vamos tomando conhecimento das tentativas de fuga, do risco de vida que correm, das condições desumanas de travessia às quais se sujeitam.

A maioria dos homens, mulheres e crianças que chegam ao porto de Lampedusa provém actualmente da Líbia, embora muitos sejam cidadãos de outros países demasiado pobres para poderem ser repatriados, expulsos pelo próprio regime que, deste modo, tenta mostrar à Europa que cumpre as ameaças que faz.

Segundo a ONU, um em cada dez migrantes não resiste à viagem e acaba por morrer afogado, de fome, de sede ou de exaustão. Mas a Europa teima em ignorar esta realidade, a maior das tragédias humanitárias desde o início do conflito armado na Líbia. Insiste em desviar o olhar destes seres humanos que, encurralados no fogo cruzado, necessitam de ser acolhidos e protegidos.


A Europa teima, sobretudo, em ignorar a sua vocação solidária e humanista e a sua tradição no acolhimento de estrangeiros. Insiste em esquecer que, em obediência aos valores fundamentais que proclama, deve continuar a ser – sobretudo nos tempos que vivemos – um espaço no qual a concessão de abrigo a refugiados seja efectivamente possível.

Por isso, os que chegam à ilha de Lampedusa são levados para Centros de Identificação e Expulsão (CIE) espalhados pela Itália, onde ficam detidos até 18 meses, à espera de uma decisão sobre a concessão de asilo. E no final do processo, a maioria é repatriada, porque os requisitos para a concessão de asilo são de tal forma díspares no seio da União Europeia que um deferimento constitui um verdadeiro golpe de sorte.

É certo que cabe a cada um dos Estados-Membros decidir sobre a concessão de asilo; mas é urgente que a Europa avance no sentido da concretização de uma política de asilo global. É verdade que esta é uma área sensível, na medida em que implica uma diminuição da soberania de cada Estado; mas não é possível transformar o destino das centenas de milhar de pessoas que requerem asilo político aos países da UE numa lotaria. Não podemos continuar a tratar estas questões no plano das meras orientações políticas, sem efeitos vinculativos para os Estados.

A Europa é assertiva e incisiva na condenação de práticas ditatoriais e anti-democráticas; está entre os primeiros apoiantes de revoltas populares pela liberdade. Para que todas essas declarações sejam mais que simples retórica, têm de ser consequentes.

Estão em causa Direitos Humanos, vidas. Os que chegam à Europa procuram um ideal de vida em paz e segurança, com prosperidade económica e respeito pelos ideais democráticos e pelos Direitos Humanos. Temos o dever de os receber e de lhes dar a paz e a segurança que tanto anseiam. Sem paternalismos, mas também sem preconceitos e sem discriminação.


A Europa não pode continuar a olhar para o lado. Os que perdem a vida no Mediterrâneo merecem mais do que isso.

Artigo publicado hoje, aqui.

imagem daqui.


Segredos.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Regresso.

imagem daqui

Fim de dia longo, cheio e cansativo.
Chave de casa, luz acesa.
Fecha-se a porta e, com ela, ficam do lado de fora os problemas, as angústias, as mágoas e as amarguras.
As portas têm essa característica: separam-nos de tudo e, sobretudo, protegem-nos.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A banda sonora da minha noite...

Das lembranças e do tempo.


Tudo perdura no tempo, mas torna-se tão pálido como aquelas fotografias muito antigas que ainda foram fixadas em chapas metálicas. A luz e o tempo retiram das chapas as tonalidades nítidas e características dos traços. É preciso rodar a fotografia e encontrar uma certa refracção da luz para podermos reconhecer na obscura chapa metálica a pessoa cujas feições foram absorvidas pela placa. Deste modo se desvanecem no tempo todas as lembranças humanas. Mas um dia, a luz cai dum lado qualquer e tornamos a ver um rosto.

Sándor Márai, As velas ardem até ao fim.

[Iniciado ontem. Para aguçar a curiosidade, Pedro.]

A importância da postura.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Especialmente hoje.

Ditos.



If money is your hope for independence you will never have it.
The only real security that a man will have in this world
is a reserve of knowledge, experience, and ability.

Henry Ford

domingo, 21 de agosto de 2011

Às Vezes Tenho Ideias Felizes

Às vezes tenho ideias felizes,
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...


Álvaro de Campos

imagem daqui
















 

sábado, 20 de agosto de 2011

Última Ceia.



Com que monotonia penso em mim;
sentimento distante, que me põem à frente,
na mesa, já frio e sem gosto. Mas vou
comendo, sem pressa, este prato
indigesto; e, a cada garfada, antecipo
a dor de estômago que me irá encher
de pesadelos a noite. Eu: pesada
refeição que não desejo,
mas me puseram à frente.

(E se disser que não como?)


Nuno Júdice, Meditação sobre Ruínas

Legenda.


I had seen birth and death
but had thought they were different.

T.S. Eliot

Escolha dupla.

imagem daqui

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A banda sonora da minha noite...

Ditos.


My mother used to tell me:
"- No matter what they ask you, always say yes.
You can learn later."
  
Natalie Wood

Receita do dia.

imagem daqui

Smile though your heart is aching
Smile even though it's breaking
When there are clouds in the sky, you'll get by
If you smile through your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through for you.

Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you just smile.

That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you just smile.

John Turner / Geoffrey Parsons

[com música de Charlie Chaplin que hoje soará repetidamente ao meu ouvido.]

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Só uma vez...



Só uma vez agarrei esse momento
em que alguma coisa começa
mesmo, ao centésimo de segundo.
O meu coração parou por um
centésimo de segundo, as veias
todas pararam e um cabelo
rompeu, primaveril, na cabeça.

Alguém fugira num labirinto
sem saber que era labirinto
e por todo o tempo da vida
se enganou sem remédio, era
um daqueles casos em que o tempo
era espaço. E o amor era miragem.

E deixo eu o que estou a fazer,
por mais importante que seja,
para ir completar o que falta
num poema? Pois deixo, imagine-se:
o que falta num poema. Sem juízo
não se faz o que antes se fazia.

Esse centésimo de segundo demorou
uma eternidade, aproveitei
para cantar um hino à imortalidade
dos grandes poetas, dentro desse segundo
depois te amei desalmadamente.


Helder Moura Pereira

A força da convicção.


Rembrandt, A lição de anatomia do Dr. Tulp.
Afirma com energia o disparate que quiseres, 
e acabarás por encontrar quem acredite em ti.

Vergílio Ferreira 

Pedaço de vida # 8


terça-feira, 16 de agosto de 2011

In Memoriam.



“O estudante, habituando-se, durante cinco anos, a decorar todas as noites, palavra por palavra, parágrafos que há quarenta anos permanecem imutáveis, sem os criticar, sem os comentar, ganha o hábito salutar de aceitar sem discussão e com obediência as ideias preconcebidas, os princípios adoptados, os dogmas provados, as instituições reconhecidas. Perde a funesta tendência – que tanto mal produz – de querer indagar a razão das coisas, examinar a verdade dos factos; perde, enfim, o hábito deplorável de exercer o livre exame, que não serve senão para ir fazer um processo científico a venerandas instituições, que são a base da sociedade. O livre exame é o princípio da revolução. A ordem o que é? A aceitação das ideias adoptadas. Se se acostuma a mocidade a não receber nenhuma ideia dos seus mestres sem verificar se é exacta, corre-se o perigo de a ver, mais tarde, não aceitar nenhuma instituição do seu país sem se certificar se é justa. Teríamos então o espírito da revolução, que termina pelas catástrofes sociais!”
(Excerto de um relatório que acompanha o Projecto de Reforma do Ensino de Alípio Abranhos.)

Eça de Queirós, O Conde de Abranhos.

Passam hoje 111 anos da morte de Eça de Queirós. Morreu há mais de um século e, todavia, os seus escritos revestem uma actualidade desconcertante.
 

Ditos.


Quelle come me sono capaci di grandi amori
e grandi collere, grandi litigi, grandi pianti
e grandi perdoni.

Alda Merini

Para fazer antes de fazer.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A banda sonora da minha noite...

Falta cumprir-se a Europa

Os líderes da Zona Euro estiveram reunidos em Bruxelas no passado dia 21 de Julho, em Cimeira Extraordinária (CE), em que o principal ponto de discussão foi a tentativa (alcançada) de encontrar uma solução para a crise da dívida grega e de evitar o tão falado - e sentido - contágio a outros países; mas a CE teve intuitos que extravasam em muito a superação da instabilidade financeira de alguns dos membros da União Europeia (UE).

Em bom rigor, o que esteve em causa nesta CE - e o que será determinante nos tempos mais próximos - foi a capacidade de a Europa, a uma só voz, fazer frente aos desafios que a esperam. O futuro da UE, nos moldes em que hoje a conhecemos, foi e é o mote para a discussão e a decisão quanto a matérias tão estruturantes como a capacidade de alguns dos seus Estados de se governarem e/ou de serem governados, a bem de todos.

Foram deliberadas nesta CE medidas de apoio à economia helénica, apelidadas de “excepcionais” pelo presidente francês; há quem denomine estas novas resoluções de “Novo Plano Marshall para a Grécia”. Tudo isto com o grande desiderato de aplacar a fúria dos mercados internacionais (ou das agências de notação…). No entanto, a pressão dos meios financeiros mantém-se firme, agora também sobre a Itália e a Espanha, o que parece significar que a suposta “mensagem de solidariedade” transmitida até agora não foi ainda suficiente, mesmo que se acredite - como eu - que a actual crise financeira possa ser ultrapassada com sucesso.

O que falta definir e concretizar (e urge fazê-lo) é o modelo de integração desta UE. Temos uma Europa descorada, esbatida, com demasiadas decisões em sentidos divergentes; esta “desunião” impossibilita um maior crescimento e uma capacidade de reacção coerente e segura aos tempos difíceis que atravessamos.

Não faltam vozes a clamar por uma solução de cariz mais federalista, ainda que os interesses de cada um dos Estados-Membros tenham, nesta como em tantas outras matérias, uma palavra importante a dizer. Mas importa decidir, e há que fazê-lo rapidamente.

Robert Schuman - o “Pai” da Europa - disse em 1950 que «a paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços criativos à altura dos perigos que a ameaçam. […] A Europa não se fará de uma só vez, nem numa construção de conjunto: far-se-á por meio de realizações concretas que criem primeiro uma solidariedade de facto.»

Está na altura de ser dado mais um passo no sentido da construção de uma verdadeira Europa, mais unida, mais coerente, mais sólida. Para que não seja a própria Europa a destruir os seus Estados.

[MDB]. Publicado hoje no Público.
























Em refúgio.


domingo, 14 de agosto de 2011

Bons sonhos.

O ópio...

[...] Por isso eu tomo ópio. É um remédio.
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio. [...]


Álvaro de Campos, Opiário.


Tarde de sol.


Domingo de manhã.


sábado, 13 de agosto de 2011

Há cartas...

Marcelo foi transferido para Mutarara, cidade que ficava além de todo o outro lugar. A mulher, Nurima, ficou sozinhando-se, tomando conta das coisas e da restante vida. A espera é uma tecedura, a gente cria presenças com materiais de ausência. Os dedos de Nurima desinventavam dias, em desconto de saudades. A esposa: habituada, não habitada.

Até que, uma certa tarde, chegou de Mutarara a inesperada visita. Era Florinda, familiar sem parentesco certo. Entrou, sentou, espraiou aqueles silêncios que antecedem as grandes falas. Depois disse:

- Quero lhe avisar: há cartas.

Mia Couto, Na Berma de Nenhuma Estrada

Bom dia.


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Quem procura...

foto daqui.
Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem.
Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno.
É apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor.
E é por isso que a poesia é uma moral. [...]
Se em frente do esplendor do mundo nos alegramos com paixão, também em frente do sofrimento do mundo nos revoltamos com paixão.
[...]
O facto de sermos feitos de louvor e protesto testemunha a unidade da nossa consciência.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Arte Poética II

Legenda.


Books are for people who wish
they were somewhere else.

Mark Twain

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A banda sonora da minha noite...

Um presente...

 
 
 
Recebido ontem, de quem me dá sempre tanto...
A ler em breve, muito em breve.
Obrigada. Sempre, por tudo.
 
 
Um pequeno castelo de caça na Hungria, onde outrora se celebravam elegantes saraus e cujos salões decorados ao estilo francês se enchiam da música de Chopin, mudou radicalmente de aspecto. O esplendor de então já não existe, tudo anuncia o final de uma época. Dois homens, amigos inseparáveis na juventude, sentam-se a jantar depois de quarenta anos sem se verem. Um, passou muito tempo no Extremo Oriente, o outro, ao contrário, permaneceu na sua propriedade. Mas ambos viveram à espera deste momento, pois entre eles interpõe-se um segredo de uma força singular... (sinopse)
 

Livros, livros & companhia ilimitada...

Há os livros que antes de lidos já estão lidos.
Há os que se lêem todos e ficam logo lidos todos.
E há os que nos regateiam a leitura e que
pedimos humildemente que se deixem ler todos
e não deixam e vão largando uma parte de si pelas gerações
e jamais se deixam ler de uma vez para sempre.

Vergílio Ferreira

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Boa noite.

São horas.


São horas talvez de eu fazer o único esforço de eu olhar para a minha vida. Vejo-me no meio de um deserto imenso. Digo do que ontem literariamente fui, procuro explicar a mim próprio como cheguei aqui.

Bernardo Soares, O Livro do Desassossego, fragmento [17]

Bom dia.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Segredo

Keira Knightley, Atonement
Não contes do meu vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro os cortinados
para uma sombra mais espessa

Deixa que feche o anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço com eles
a fim de te ouvir gritar.


Maria Teresa Horta