Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir até de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar; que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.
Nuno Júdice
terça-feira, 31 de maio de 2011
Do juízo.
Audrey Hepburn, Funny Face (1957) |
Há criaturas destinadas umas às outras que não conseguem nunca encontrar-se e resignam-se a amar outra pessoa para remendar aquela ausência. São ajuizadas.
Erri De Luca, Três Cavalos.
lido aqui
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Erri de Luca
Definições.
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segunda-feira, 30 de maio de 2011
A banda sonora da minha noite...
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refúgios meus
O Tempo.
Regresso ao tempo corrido, sem tempo para nada, com pouco tempo para quase tudo.
Regresso ao dia-a-dia, à vida, à rotina.
Onde o relógio manda e eu obedeço.
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domingo, 29 de maio de 2011
Dia de sol e de repouso.
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sábado, 28 de maio de 2011
Porto.come.
todas as informações aqui. |
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Serralves em Festa!
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Sábado.
imagem vista aqui |
O livro já está escolhido; a bicicleta, à minha espera.
Enquanto espero pelas flores que me trazes sempre, vou sentir o cheiro do mar e provar a frescura da água.
Até já.
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sexta-feira, 27 de maio de 2011
A banda sonora da minha noite...
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Lo que nos salva.
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Pablo Neruda
Bom dia.
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Por ruelas...
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quinta-feira, 26 de maio de 2011
Feira do Livro
Arranca hoje a 81ª Feira do Livro do Porto. Ao longo de 18 dias, a Avenida dos Aliados será palco de conversas com autores, apresentações, lançamentos e sessões de autógrafos, mas também de concertos e sessões de cinema ao ar livre.
O horário da feira é este ano uma vez mais alargado: de 2ª a 6ª Feira, a abertura é às 12h30; Sábado e Domingo, às 11h00. De Domingo a Quinta-feira, a Feira encerra às 23h00; Sextas e Sábados às 24h00.
Todas as informações aqui.
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refúgios meus
Todos os dias são meus.
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Alberto Caeiro
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
Alberto Caeiro
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Alberto Caeiro
quarta-feira, 25 de maio de 2011
O grupo do meio.
Os homens mais fortes emocionalmente são os que respeitam mais as mulheres. E as mulheres mais fortes e mais femininas costumam respeitar os homens. As coisas são mesmo assim. É o grupo no meio que estraga tudo.
Clint Eastwood, in The Eastwood Factor, de Richard Schickel (2010)
[via Ricardo Gross.]
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Clint Eastwood
Música para embalar os sonhos.
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terça-feira, 24 de maio de 2011
A violência das coisas.
O Tribunal da Relação do Porto lavrou acórdão em 13 de Abril passado, revogando uma decisão do tribunal colectivo (1ª Vara Criminal do Porto) que condenara ‘o arguido como autor material de um crime de violação p. e p. no art.º 164º n.º 1 do C. Penal, na pena de cinco anos de prisão, suspensa na sua execução por igual período e sujeita a regime de prova’. O arguido fora também condenado a pagar uma indemnização à vítima.
A Relação absolveu o arguido do crime por que foi condenado, bem como do pedido cível formulado pela assistente, baseando a decisão parcialmente na alteração da matéria de facto, por questões técnicas de admissibilidade e corroboração de meios de prova (depoimentos da vítima e da sua mãe), mas também em argumentos de qualificação jurídica. Nomeadamente, o Tribunal da Relação entendeu que o crime de violação, tal como está definido no Código Penal, implica um confronto físico, violento, entre violador e vítima (‘O agente só comete o crime se, na concretização da execução do acto sexual, ainda que tentado, se debater com a pessoa da vítima, de forma a poder-se falar em “violência”). Segundo os juízes que formaram a maioria, não teria existido violência (ou prova dela) neste caso, nem outro meio de execução da violação que a lei prevê em alternativa (ameaça grave, colocação em estado de impossibilidade de resistência).
O que parece particularmente estranho nestes raciocínios é por um lado o ressurgimento de uma imagem (proto)típica da violação como uma situação de confronto físico em que o homem agride e a mulher se debate e grita por socorro, como se defendeu no Direito antigo (quer no Direito Comum quer na Common Law); e por outro a invocação de um paradigma de protecção minimalista da liberdade de auto-determinação sexual para justificar um entendimento muito estreito da previsão legal, como se o entendimento liberal contra o padrão dos bons costumes significasse uma efectiva desprotecção dessa liberdade.
Julgo que na fundamentação da decisão há vários equívocos. O primeiro e talvez mais importante reside justamente nesta absurda interpretação da lógica de protecção das normas que tipificam os crimes sexuais como estreitando o crime de violação às situações de agressão física extrema com resistência activa e notória por parte da vítima. O segundo é o próprio entendimento do que significa a palavra ‘violência’ na definição legal do tipo da violação. Muitos dos velhos preconceitos sobre a possibilidade de violar uma mulher espreitam aqui em vários pontos do Acórdão, quer na decisão e sua fundamentação, quer na transcrição das gravações da prova.
‘You cannot thread a moving needle’: Como é possível violar a boca de uma mulher com um pénis ‘só’ agarrando-lhe a cabeça?
[Sr. Proc.: Mas ele fez algum gesto que a forçasse a manter o pénis
dele na sua boca?
dele na sua boca?
Assit. Sim, com a cabeça. Agarrando-me na cabeça...
Adv. do arguido: Porque é que a Srª não fechou a boca,
um gesto tão simples?]
um gesto tão simples?]
A mulher que realmente não quer ser violada debate-se e grita e defende-se até à morte: ‘O agente só comete o crime se, na concretização da execução do acto sexual, ainda que tentado, se debater com a pessoa da vítima, de forma a poder-se falar em “violência”.
[‘A ofendida levantou-se e tentou dirigir-se para a porta de saída;
no entanto, o arguido, aproveitando-se do estado de gravidez
avançado que lhe dificultava os movimentos, agarrou-a, virou-a de
costas, empurrou-a na direcção do sofá fazendo-a debruçar-se sobre
o mesmo, baixou-lhe as calças (de grávida) e introduziu o pénis
erecto na vagina até ejacular.’]
A nossa Justiça tem ideias muito estranhas sobre o que seja violência. Pelos vistos, esta matéria de facto indicia sexo consensual, não forçado. Pensava eu que o cerne da violação era forçar alguém a ter relações contra a sua vontade, forçando-a ou constrangendo-a, por violência ou ameaça, ou aproveitando a sua vulnerabilidade. Mas o Tribunal da Relação do Porto tem uma ideia diferente: a violação verdadeira implica sangue, tiros, gritos lancinantes e uma luta corpo a corpo. Como nas séries de televisão, que certamente os juízes andam a ver em excesso.
Teresa Pizarro Beleza, aqui.
[13.Maio.2011]
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It was. It is.
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A banda sonora da minha noite...
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domingo, 22 de maio de 2011
Precisa-se de matéria prima para construir um País
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós.
Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.
Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.
Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte... Fico triste.
Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados! É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer.
Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.
E você, o que pensa?.... MEDITE!
Eduardo Prado Coelho, in Público
Carlos Botelho, 2007 |
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Eduardo Prado Coelho
sexta-feira, 20 de maio de 2011
O peso da amargura.
Voltou o rosto
e viu o outro: a cabeça
baixa, os braços estendidos,
mãos sobre os joelhos.
Contemplou-o sob o peso da
amargura.
Disse-lhe o nome.
Uma única palavra,
áspera corda na claridade da noite.
João Miguel Fernandes Jorge
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João Miguel Fernandes Jorge
A espuma dos dias.
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pedaço de vida
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Dia do Advogado.
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memória
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Hoje.
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Eugénio de Andrade
Sede.
imagem de Daniel Bernal |
Ah, eu bebi.Com que sede eu bebi.
Mas eu também estava pleno de mundo e, bebendo,
eu mesmo transbordei.
Rainer Maria Rilke
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Rainer Maria Rilke
O estado do tempo.
vista aqui |
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constatações
terça-feira, 17 de maio de 2011
Bons sonhos.
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refúgios sonoros
We will always have... Paris.
vista aqui |
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percursos
Roxo contra a Homofobia e a Transfobia.
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comportamentos
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Tormentas.
Sento-me, deito-me, levanto-me,
tudo em pensamento.
Em nenhum lugar tenho paz,
Com meu conflito me atormento.
Andreas Tscherning
tudo em pensamento.
Em nenhum lugar tenho paz,
Com meu conflito me atormento.
Andreas Tscherning
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Andreas Tscherning
Stupidity.
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comportamentos
domingo, 15 de maio de 2011
Bons sonhos.
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refúgios musicais
Eu não procuro nada em ti.
Eu não procuro nada em ti,
nem a mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.
Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.
O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.
Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.
Manuel António Pina
[Prémio Camões 2011]
nem a mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.
Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.
O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.
Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.
Manuel António Pina
[Prémio Camões 2011]
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Manuel António Pina
sábado, 14 de maio de 2011
Esta noite.
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pedaço de vida
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Words
Words are things, and a small drop of ink,
falling like dew upon a thought,
produces that which makes thousands,
perhaps millions, think.
Lord George Gordon Byron
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Lord Byron
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Sinónimo absoluto de poesia
Dizemos Sophia como se esta palavra fosse sinónimo absoluto de poesia.
Dizemos Sophia e a nossa memória enche-se do som que as palavras têm.
Dizemos Sophia e de repente o ar é límpido, as águas transparentes, há sempre uma casa na falésia e o sol faz rebentar o calor na cal das paredes.
Dizemos Sophia e todas as flores e todos os peixes têm nome, e as crianças tornam-se mais ricas quando os encontram.
Dizemos Sophia e não precisamos de dizer mais nada.
Alice Vieira
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Alice Vieira
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão Ferreira, Infinito Pessoal
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David Mourão Ferreira
terça-feira, 10 de maio de 2011
A Man may make a Remark
A Man may make a Remark—
In itself—a quiet thing
That may furnish the Fuse unto a Spark
In dormant nature—lain—
Let us divide—with skill—
Let us discourse—with care—
Powder exists in Charcoal—
Before it exists in Fire.
Emily Dickinson
In itself—a quiet thing
That may furnish the Fuse unto a Spark
In dormant nature—lain—
Let us divide—with skill—
Let us discourse—with care—
Powder exists in Charcoal—
Before it exists in Fire.
Emily Dickinson
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Emily Dickinson
35 anos.
Como há 20 anos, às vezes ainda dou por mim à tua espera, para fazermos juntas o mesmo caminho de todos os dias, com a leveza dos 15 anos e a segurança de quem se tem uma à outra. Há uma parte de mim que ficou lá, à janela, a ver-te chegar. Dentes escovados, livros em ordem, casaco vestido. Pronta para seguir contigo. Pronta para te reencontrar.
Hoje farias 35 anos; teríamos, seguramente, muitos motivos para comemorar.
Parabéns, minha Amiga.
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segunda-feira, 9 de maio de 2011
Nos teus braços...
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refúgios sonoros
domingo, 8 de maio de 2011
Ai que prazer...
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
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Fernando Pessoa
sábado, 7 de maio de 2011
Portugal. Para quem não conhece.
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referências
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Espero por ti...
Espero sempre por ti
o dia inteiro,
Quando na praia sobe,
de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner Andresen
o dia inteiro,
Quando na praia sobe,
de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Sophia de Mello Breyner Andresen
Os Dez Mandamentos.
1. Faz o menor número de confidências possível. É melhor não fazeres nenhuma, mas se fizeres algumas, fá-las falsas ou imprecisas.
2. Sonha o menos possível, excepto quando o propósito directo do sonho for um poema ou uma produção literária. Estuda e trabalha.
3. Tenta ser o mais sóbrio possível, antecipando a sobriedade do corpo por uma atitude sóbria da mente.
4. Sê amável apenas por simples amabilidade, não abrindo a tua mente ou discutindo livremente os problemas que estão ligados à vida íntima do espírito.
5. Cultiva a concentração, tempera a vontade, faz de ti uma força pensando, o mais intimamente possível, que és realmente uma força.
6. Considera quão poucos amigos verdadeiros tens, porque poucas pessoas são capazes de ser amigas de alguém.
7. Tenta cativar por aquilo que o teu silêncio contém.
8. Aprende a agir prontamente nas pequenas coisas, nas coisas triviais da vida da rua, da vida doméstica, da vida do trabalho, a não tolerares atrasos vindos de ti próprio.
9. Organiza a tua vida como uma obra literária, pondo nela tanta unidade quanta seja possível.
10. Mata o Assassino.
Fernando Pessoa, Prosa Íntima e de Autoconhecimento.
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Fernando Pessoa
r/ch = rosa choque
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divagações
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Somewhere...
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refúgios clássicos
Racismo.
Fala-se com frequência no racismo envergonhado de portugueses e brasileiros. Certo. Há um racismo envergonhado. Prefiro-o, porém, ao racismo desavergonhado com que em Itália Berlusconi persegue ciganos e africanos fugidos à miséria. A haver racistas, que sejam envergonhados.
José Eduardo Agualusa, O Lugar do Morto
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José Eduardo Agualusa
People talk. A lot.
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constatações
terça-feira, 3 de maio de 2011
Nada é Certo
Ninguém avança pela vida em linha recta. Muitas vezes, não paramos nas estações indicadas no horário. Por vezes, saímos dos trilhos. Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos voo e desaparecemos como pó. As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem se sair do mesmo lugar. No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver. Alguns gastam um sem número de vidas no decurso da sua estadia cá em baixo. Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam inelutavelmente para trás, atolados no caminho. Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de um homem é para sempre insondável. É absolutamente impossível que alguém conte a história toda, por muito limitado que seja o fragmento da nossa vida que decidamos tratar.
Henry Miller, O Mundo do Sexo
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Henry Miller
O amor e as relações.
Uma coisa é o amor, outra é a relação. Não sei se, quando duas pessoas estão na cama, não estarão, de facto, quatro: as duas que estão mais as duas que um e outro imaginam.
António Lobo Antunes, Diário de Notícias (2004)
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António Lobo Antunes
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Bons sonhos.
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refúgios sonoros
Lives.
imagem de musicandphotography |
Haruki Murakami, The Sputnik Sweetheart.
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Haruki Murakami
Não, não se fez justiça.
Ao anunciar esta madrugada a morte de Bin Laden, Obama proclamou: “fez-se justiça”. Não fez. Justiça far-se-ia se Bin Laden fosse levado ao Tribunal Penal Internacional para ser julgado por crimes contra a humanidade. Mas de um país que insiste em repudiar a jurisdição do TPI para os seus boys não se podia esperar essa lucidez e essa coragem. E, mais que tudo, a morte de Bin Laden deixa por responder uma série de questões incómodas para quem o matou: a origem da Al Qaeda, as ligações sauditas, a bênção americana inicial. Agora criou-se um mártir. Esta never ending story passa para o difícil capítulo seguinte.
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José Manuel Pureza
Mornings.
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pedaço de vida
domingo, 1 de maio de 2011
O Menino de Sua Mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado -
Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe.
Fernando Pessoa
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado -
Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe.
Fernando Pessoa
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