segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Mas que sei eu das folhas no outono
Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha
Ruy Belo
Ó dia de hoje
Ó dia de hoje, ó dia de horas claras
Florindo nas ondas, cantando nas florestas,
No teu ar brilham transparentes festas
E o fantasma das maravilhas raras
Visita, uma a uma, as tuas horas
Em que há por vezes súbitas demoras
Plenas como as pausas de um verso.
Ó dia de hoje, ó dia de horas leves
Bailando na doçura
E na amargura
De serem perfeitas e serem breves.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Florindo nas ondas, cantando nas florestas,
No teu ar brilham transparentes festas
E o fantasma das maravilhas raras
Visita, uma a uma, as tuas horas
Em que há por vezes súbitas demoras
Plenas como as pausas de um verso.
Ó dia de hoje, ó dia de horas leves
Bailando na doçura
E na amargura
De serem perfeitas e serem breves.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Sophia de Mello Breyner Andresen
domingo, 30 de janeiro de 2011
Sabores...
Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.
Eugénio de Andrade
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.
Eugénio de Andrade
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Eugénio de Andrade
Pedaço de vida # 4
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pedaço de vida
Os nossos eus.
Esses eus de que somos feitos, sobrepostos como pratos empilhados nas mãos de um empregado de mesa, têm outros vínculos, outras simpatias, pequenas constituições e direitos próprios - chamem-lhes o que quiserem (e muitas destas coisas nem sequer têm nome) - de modo que um deles só comparece se chover, outro só numa sala de cortinados verdes, outro se Mrs. Jones não estiver presente, outro ainda se se lhe prometer um copo de vinho - e assim por diante; pois cada indivíduo poderá multiplicar, a partir da sua experiência pessoal, os diversos compromissos que os seus diversos eus estabelecerem consigo - e alguns são demasiado absurdos e ridículos para figurarem numa obra impressa.
Virginia Woolf, Orlando
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Virginia Woolf
Last night
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instantâneos
sábado, 29 de janeiro de 2011
recordações
desse tempo recordo um retrato e dois nomes
que então jurámos dar aos filhos que um dia tivéssemos
e que por isso mesmo nunca demos
aos filhos que tivemos
desse tempo guardo as noites
que deveriam ter sido apenas de um deslumbrado amor
e que não foram
derramando-se em cicatrizes que se deitaram no meu corpo
e nele fizeram sua escondida e permanente morada
enquanto cuidadosamente guardei todos os teus vestígios
para te fazer ressuscitar num terceiro dia
mais conveniente
Alice Vieira
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Alice Vieira
eternal doubts
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perspectivas
Tarde de mimo.
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momentos,
refúgios sonoros
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
A Vida.
A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;
a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;
a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.
Nuno Júdice
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;
a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;
a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.
Nuno Júdice
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Nuno Júdice
Legenda
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You just feel
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refúgios meus
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
A banda sonora da minha noite...
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refúgios sonoros
Dizer Não
Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.
Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.
Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.
Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.
Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.
Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.
Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.
Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenanmo-nos em gado sob o comando de um pastor.
Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.
Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.
E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.
Vergílio Ferreira, Conta-Corrente
Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.
Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.
Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.
Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.
Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.
Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.
Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenanmo-nos em gado sob o comando de um pastor.
Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.
Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.
E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.
Vergílio Ferreira, Conta-Corrente
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Vergílio Ferreira
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Legenda
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inscrições pessoais
As fadas.
A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
...Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
Alberto Caeiro
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
...Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em algum ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
Alberto Caeiro
imagem de Francisco Godoy Aguilar |
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Alberto Caeiro
Para ti.
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refúgios meus
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
Dare to dream.
Somewhere over the rainbow
Way up high,
There's a land that I heard of
Once in a lullaby.
Somewhere over the rainbow
Skies are blue,
And the dreams that you dare to dream
Really do come true.
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refúgios clássicos
Raiz do Orvalho
Sou agora menos eu
e os sonhos
que sonhara ter
em outros leitos despertaram
Quem me dera acontecer
essa morte
de que não se morre
e para um outro fruto
me tentar seiva ascendendo
porque perdi a audácia
do meu próprio destino
soltei ânsia
do meu próprio delírio
e agora sinto
tudo o que os outros sentem
sofro do que eles não sofrem
anoiteço na sua lonjura
e vivendo na vida
que deles desertou
ofereço o mar
que em mim se abre
à viagem mil vezes adiada
De quando em quando
me perco
na procura a raiz do orvalho
e se de mim me desencontro
foi porque de todos os homens
se tornaram todas as coisas
como se todas elas fossem
o eco as mãos
a casa dos gestos
como se todas as coisas
me olhassem
com os olhos de todos os homens
Assim me debruço
na janela do poema
escolho a minha própria neblina
e permito-me ouvir
o leve respirar dos objectos
sepultados em silêncio
e eu invento o que escrevo
escrevendo para me inventar
e tudo me adormece
porque tudo desperta
a secreta voz da infância
Amam-me demasiado
as coisas de que me lembro
e eu entrego-me
como se me furtasse
à sonolenta carícia
desse corpo que faço nascer
dos versos
a que livremente me condeno
Mia Couto
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Mia Couto
Quem espera...
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Antoine de Saint-Exupery
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Smile
smile
though your heart is aching
smile
even though it's breaking
when there are clouds
in the sky,
you'll get by
if you smile
through your fear and sorrow
smile
and maybe tomorrow
you'll see the sun
come shining through
for you
light up your face with gladness
hide every trace of sadness
although a tear
may be ever so near
that's the time
you must keep on trying
smile
what's the use of crying?
you'll find that life
is still worth-while
if you just smile
smile
light up your face with gladness
hide every trace of sadness
although a tear
may be ever so near
that's the time
you must keep on trying
smile,
what's the use of crying?
you'll find that life
is still worth-while
if you just smile
keep on smiling
oh yeah
smile
never, never, never stop smile
smile
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refúgios clássicos
Os nossos olhos já não são peixes verdes
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
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Eugénio de Andrade
Uma questão de carácter.
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Charlie Chaplin
Dias feios.
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constatações
Arrependimentos
imagem de Damian Hovhannisyan |
Poucos chegamos ao fim contentes por termos respondido a todos os acenos da vida. Levamos connosco para a sepultura o pesadelo dos gestos que não praticámos, dos sentimentos a que não demos expressão. A consciência de que a grande parte das oportunidades foram desperdiçadas e a íntima certeza de que tê-las aproveitado teria sido o melhor da nossa existência.
Miguel Torga
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Miguel Torga
domingo, 23 de janeiro de 2011
That's all there is.
Anita Ekberg e Marcello Mastroianni, La Dolce Vita, 1960 |
There is no end. There is no beginning.
There is only the passion of life.
Federico Fellini
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Federico Fellini
O mais importante.
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refúgios cinematográficos
sábado, 22 de janeiro de 2011
A singularidade do habitual.
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.
Bertold Brecht
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Bertold Brecht
To believe or not.
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inscrições pessoais
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
A banda sonora da minha noite...
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refúgios sonoros
Perguntas
As perguntas verdadeiramente importantes são as que uma criança pode formular - e apenas essas. Só as perguntas mais ingénuas são realmente perguntas importantes. São as interrogações para as quais não há resposta. Uma pergunta para a qual não há resposta é um obstáculo para lá do qual não se pode passar. Ou, por outras palavras: são precisamente as perguntas para as quais não há resposta que marcam os limites das possibilidades humanas e traçam as fronteiras da nossa existência.
Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser
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Milan Kundera
Detalhes. Preciosos.
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divagações
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
A banda sonora da minha noite...
Are you lonesome tonight,
Do you miss me tonight?
Are you sorry we drifted apart?
Does your memory stray to a brighter sunny day
When I kissed you and called you sweetheart?
Do the chairs in your parlor seem empty and bare?
Do you gaze at your doorstep and picture me there?
Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Tell me dear, are you lonesome tonight?
Do you miss me tonight?
Are you sorry we drifted apart?
Does your memory stray to a brighter sunny day
When I kissed you and called you sweetheart?
Do the chairs in your parlor seem empty and bare?
Do you gaze at your doorstep and picture me there?
Is your heart filled with pain, shall I come back again?
Tell me dear, are you lonesome tonight?
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refúgios clássicos
Venice
imagem de National Geographic |
This was Venice, the flattering and suspect beauty this city, half fairy tale and half tourist trap, in whose insalubrious air the arts once rankly and voluptuously blossomed, where composers have been inspired to lulling tones of somniferous eroticism.
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Thomas Mann
Essencialidades.
Uma mulher precisa de apenas duas coisas na vida: um vestido preto e um homem que a ame.
Coco Chanel
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Coco Chanel
Legenda
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inscrições pessoais
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Amei
imagem de Konrad Zagloba |
Amei palavras gastas que ninguém
ousava. Encantou-me a rima flor
amor,
a mais antiga das difíceis do mundo.
Amei a verdade jazente no fundo,
quase um sonho olvidado, que a convulsão
redescobre amiga. Com medo o coração
dela se aproxima, e não mais se farta.
Amei-te a ti que me escutas, e a minha carta
boa deixada ao fim deste meu jogo.
Umberto Saba
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Umberto Saba
Um motivo de força maior.
imagem encontrada aqui |
José Saramago, As pequenas memórias
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José Saramago
Illusions.
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constatações
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
A vós. A nós. A todos.
Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casa aquecidas
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não
Considerai se isto é uma mulher
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios os olhos e frio o regaço
Como uma rã no Inverno.
Meditai que isto aconteceu
Recomendo-vos estas palavras.
Esculpi-as no vosso coração.
Estando em casa andando pela rua
Ao deitar-vos e ao levantar-vos;
Repeti-as aos vossos filhos.
Ou então que desmorone a vossa casa
Que a doença vos entreve,
Que os vossos filhos vos virem a cara.
Primo Levi, Se isto é um homem
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Primo Levi
Porque a vida é o que fazemos dela.
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percursos
Desejos
imagem encontrada aqui |
Pudessem todas as minhas manhãs começar assim: ao ar livre, com um café forte e um livro como companhia. Sem correrias, sem compromissos, sem horários.
Só eu, um café, um livro e os meus sonhos.
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desejos
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Sous le ciel de Paris...
Sous le ciel de Paris
S'envole une chanson...
Elle est née d'aujourd'hui
Dans le cœur d'un garçon.
Sous le ciel de Paris
Marchent des amoureux...
Leur bonheur se construit
Sur un air fait pour eux.
Sous le pont de Bercy
Un philosophe assis,
Deux musiciens, quelques badauds,
Puis les gens par milliers...
Sous le ciel de Paris
Jusqu'au soir vont chanter...
L'hymne d'un peuple épris
De sa vieille cité.
Près de Notre Dame
Parfois couve un drame;
Oui mais à Paname
Tout peut s'arranger:
Quelques rayons,
Du ciel d'été,
L'accordéon,
D'un marinier,
L'espoir fleurit...
Au ciel de Paris!
Sous le ciel de Paris
Coule un fleuve joyeux...
Il endort dans la nuit
Les clochards et les gueux.
Sous le ciel de Paris
Les oiseaux du Bon Dieu...
Viennent du monde entier
Pour bavarder entre eux.
Et le ciel de Paris
A son secret pour lui:
Depuis vingt siècles, il est épris
De notre Ile Saint Louis!
Quand elle lui sourit
Il met son habit bleu...
Quand il pleut sur Paris
C'est qu'il est malheureux.
Quand il est trop jaloux
De ses millions d'amants...
Il fait gronder sur nous
Son tonnerr' éclatant.
Mais le ciel de Paris
N'est pas longtemps cruel...
Pour se fair' pardonner...
Il offre un arc en ciel!
Edith Piaf
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refúgios sonoros
A realidade
Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Alberto Caeiro
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Alberto Caeiro
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Alberto Caeiro
Pedaço de vida # 3
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pedaço de vida
domingo, 16 de janeiro de 2011
Os amigos
Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Até que os dias vão passar, meses... anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo... Um dia os nossos filhos vão ver as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Até que os dias vão passar, meses... anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo... Um dia os nossos filhos vão ver as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!
"Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!". A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.
E, entre lágrimas abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes desde aquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida te passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo.
E, entre lágrimas abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes desde aquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida te passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Fernando Pessoa
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Fernando Pessoa
O assassino e a vítima
imagem de Mirela Momanu |
Todavia, o que é, para mim, absolutamente impossível e impraticável, é a manutenção da indiferença ao despautério de comentários, opiniões, atoardas e bitaites verdadeiramente homofóbicos, preconceituosos e mesquinhos que, a cada passo, vamos vendo por aí.
Por isso, faço minhas as palavras de Paulo Pinto, que transcrevo.
E com isto, ficamos conversados.
A frase que transcrevo acima não é um resmungo qualquer. É o comentário mais votado à notícia do Correio da Manhã do "não sou gay nunca mais". O mais votado, por larga margem, praticamente o dobro dos votos do que se lhe segue. Curiosamente, o que consta no cabeçalho da edição online de hoje como "o mais votado" tem cerca de 1/3 dos votos daquele, mas é igualmente significativo: "O Renato matou-o fisicamente e o carlos castro matou o miúdo psicologicamente. Isso também é crime."
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comportamentos,
refúgios dos outros
sábado, 15 de janeiro de 2011
Perchè ti Amo
Perchè ti amo, di notte son venuto da te
così impetuoso e titubante
e tu non mi potrai più dimenticare
l'anima tua son venuto a rubare.
Ora lei è mia
del tutto mi appartiene nel male e nel bene,
dal mio impetuoso e ardito amare
nessun angelo ti potrà salvare.
Herman Hesse
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Herman Hesse
Espero
Espero sempre por ti
o dia inteiro,
Quando na praia sobe,
de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner
o dia inteiro,
Quando na praia sobe,
de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Sophia de Mello Breyner
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Sophia de Mello Breyner Andresen
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Para embalar os sonhos.
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refúgios clássicos
Gosto das mulheres que envelhecem
Gosto das
mulheres que envelhecem,
com a pressa das suas rugas, os cabelos
caídos pelos ombros negros do vestido,
o olhar que se perde na tristeza
dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se
nos cantos das salas, olham para fora,
para o átrio que não vejo, de onde estou,
embora adivinhe aí a presença de
outras mulheres, sentadas em bancos
de madeira, folheando revistas
baratas. As mulheres que envelhecem
do tempo nos seus seios. Por isso esperam
que o dia corra nesta sala sem luz,
evitam sair para a rua, e dizem baixo,
por vezes, essa elegia que só os seus lábios
podem cantar.
Nuno Júdice
mulheres que envelhecem,
com a pressa das suas rugas, os cabelos
caídos pelos ombros negros do vestido,
o olhar que se perde na tristeza
dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se
nos cantos das salas, olham para fora,
para o átrio que não vejo, de onde estou,
embora adivinhe aí a presença de
outras mulheres, sentadas em bancos
de madeira, folheando revistas
baratas. As mulheres que envelhecem
sentem que as olho, que admiro os seus gestos
lentos, que amo o trabalho subterrâneodo tempo nos seus seios. Por isso esperam
que o dia corra nesta sala sem luz,
evitam sair para a rua, e dizem baixo,
por vezes, essa elegia que só os seus lábios
podem cantar.
Nuno Júdice
Golda Meir |
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Nuno Júdice
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
As palavras
imagem de Ewa Brzozowska |
– O que é que se pode perguntar das pessoas com palavras? O que vale a resposta que uma pessoa dá com palavras e não com a realidade da vida?... Vale pouco – diz com determinação.
– São poucas as pessoas cujas palavras correspondem por completo à realidade das suas vidas. Talvez seja esse o fenómeno mais raro na vida. Na altura, ainda não o sabia. Agora não me refiro aos mentirosos, aos safados. Só penso que conhecer a verdade, adquirir experiências, de nada serve, porque ninguém consegue mudar o seu carácter. Talvez não se possa fazer mais nada na vida que adaptar à realidade com inteligência e cautela essa outra realidade inalterável, o carácter pessoal. É a única coisa que podemos fazer. E mesmo assim, não seríamos mais sábios, nem mais protegidos… Quero falar contigo, e ainda não sei se tudo aquilo que eu possa perguntar e tudo aquilo que tu possas responder não alterará os factos. Mas é possível a gente conhecer os factos, aproximar-se da realidade com a ajuda de palavras, perguntas e respostas: por isso quero falar contigo. (…)
Sándor Márai, As velas ardem até ao fim
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Sándor Márai
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Delicatessen
Audrey Tautou |
ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso. ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura. ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista. ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo. dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna.
Caio Fernando Abreu
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