domingo, 9 de janeiro de 2011

10 anos

Há 10 anos atrás concluí a Licenciatura em Direito e, entretanto, o Mestrado em Direito da Empresa e dos Negócios. Integrei uma Sociedade de Advogados como estagiária e por lá fiquei, até hoje. Mudei de casa 4 vezes. Vivi numa casa velha, com paredes grossas e tectos de estuque, e num T0, milagrosamente convertido em T1. Fui a Paris, Londres, Amesterdão, Salamanca, Atenas, Santorini, Bordéus, Biarritz. Viajei incessantemente por Portugal. Não fiz sky, bungeejumping nem escalada. Li mais de 200 livros e melhorei o meu francês. Criei um blog.
Apaixonei-me várias vezes. Por muitas coisas e por algumas pessoas. Desiludi-me mais do que o que queria. Fiz alguns amigos para a vida. Perdi uns poucos. Para sempre. Tive um processo em tribunal e ganhei-o, ganharam-no por mim. Comprei 2 carros. Não consegui comprar aquilo que mais desejava. Fiz muitas asneiras das quais não me arrependo e fiz uma que não voltaria a fazer. Alterei o meu rumo profissional, definido desde miúda, de forma definitiva. Ainda não aprendi a amar-me nem a valorizar-me como deve ser. Tive um filho e tenho a minha própria família. Não tive um cão, nem um gato, nem qualquer outro animal doméstico. Perdi o meu avô. Ganhei uma nova Irmã de coração. Cometi o maior erro da minha vida e sofri demasiado com ele. Estive muito, muito doente e fiquei boa. Colhi flores plantadas pelo meu marido. Retirei do jardim a palmeira que plantámos há mais de 15 anos. Chorei muito e ri ainda mais. Engordei 20 kg e emagreci os mesmos 20 kg. Saí de casa dos meus pais, mas continua a ser a minha casa. Fiz mais de 300.000 km de carro. Quase emigrei. Aprendi a cozinhar. Aprendi a gerir o meu próprio dinheiro. Aprendi a merecê-lo. Deixei morrer os morangueiros do quintal e consegui manter a orquídea em flor durante dois anos. Percebi o que é realmente importante.
Experimentei muitas coisas só para poder dizer ao meu filho como é. Perdi a cabeça vezes sem conta. Menti. Enganei. Fui inocente. Fui crédula. Continuo a sê-lo. Vi a minha família desmoronar-se de dor e eu com ela. Percebi que há amigos que são muito mais sólidos e importantes que alguma família. Enganei-me. Iludi-me. Cresci muito. Quase morri. Dei-me de alma e coração e fui roubada. Nunca me fizeram mal. Despedi-me de gente até nunca mais. Realizei muitos dos meus sonhos. Passei a sentir em função de outro ser. Comi sushi. Passei a adorar sushi. Continuo a gostar de teatro e de cinema. Adoro ler, muito, sempre. Encontrei o homem da minha vida. E passei a saber o que é viver com o coração fora do corpo. Foram assim os últimos 10 anos da minha vida. Venham mais 10.*

*inspirada aqui.