segunda-feira, 18 de julho de 2011

Por um pedaço de pão.

Durante o fim-de-semana, os noticiários trouxeram para dentro de nossas casas a crua realidade da miséria humana: cerca de meio milhão de crianças está em risco de morte iminente devido à seca que assola os países do denominado “Corno de África”.

Sem grande espanto, soubemos ainda que um dos países mais afectados por esta situação de emergência humanitária é a Somália onde, para além da seca – uma das piores das últimas décadas – e da quebra acentuada na produção dos alimentos (com o consequente aumento dos preços), se arrasta, há mais de 20 anos, um conflito armado que parece não ter fim.

Tragédias humanitárias comovem-nos sempre. A dor e o sofrimento dos outros, por muito distantes que estejam e por muito indiferentes que sejamos, não deixam de nos tocar; sobretudo quando os que mais sofrem são os mais indefesos, os mais vulneráveis, os que mais necessitam de protecção e de cuidado – as crianças.

Numa altura em que o mundo dito “desenvolvido” se vê a braços com uma crise económica profunda, com impactos sociais e humanitários, a capacidade de olhar para além do nosso universo, de se comover com a miséria alheia e de tentar fazer alguma coisa que minore o sofrimento dos outros exige um esforço redobrado, um desprendimento material, um altruísmo que ainda acredito não estar em vias de extinção.

Ao ouvir estas notícias, fico sempre de coração apertado e de alma negra e vem-me à memória, inevitavelmente, um excerto do célebre poema de Augusto Gil, que decorei, ironicamente, ainda menina: «…as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor? Porque padecem assim?”»

Possa a Europa colocar os olhos além do Mediterrâneo; possam os líderes dos países do “primeiro mundo” ser solidários; possam os cidadãos de tantos países em paz partilhar um pedaço de pão com os que nada têm.


2 comentários:

Jânio Lima disse...

Veja como são as coisas estou a mais de um mês com uma frase da música FAZ PARTE do Engenheiros do Hawaii "Por um pedaço de pão" e cada mendigo dormindo ao relento nas ruas da cidade essa frase me vem a cabeça e toma uma proporção imensa. Resolvi por a frase "por um pedaço de pão" no google para ver se encontrava algum blog relacionado e encontrei justamente este texto maravilhoso. Ver uma criança chorar é como levar uma pancada sem defesa. Intencionado em criar um blog com imagens e textos especificamente sobre os seres abandonados ao relento da cidade, bom ainda não crei coragem de colher as imagens, pois quero imagens reais. Abraços adorei o texto valeu a minha pesquisa.

[MDB] Maria de Deus Botelho disse...

Caro Jânio,
Não conhecia a música, mas já fui pesquisar e gostei!
Obrigada pela sua partilha e volte sempre que quiser.