quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer-
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Valete, Frates


Fernando Pessoa, Mensagem


Em noite de nevoeiro cerrado, 
a memória levou-me até Fernando Pessoa
e até à sua incontornável Mensagem.
A actualidade do texto é desconcertante;
a forma incisiva da análise é sublime.
E a sensação de que tudo isto, afinal, é cíclico gela-nos o corpo.
Como o nevoeiro.

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