segunda-feira, 25 de julho de 2011

Férias.

Férias.

imagem daqui.

A Morte.



A Morte é um ensaio de Maria Filomena Mónica. Foi lançado a 30 de Junho, numa edição conjunta da Fundação Francisco Manuel dos Santos e da Relógio D’Água.
Acabei de lê-lo há dias, mas as palavras que nele constam ainda ressoam na minha consciência.

Na contra-capa do livro, pode ler-se o seguinte:

É possível que eu morra nos próximos dez, quinze anos. Tenho filhos e netos, amei e fui amada, escrevi livros, ouvi música e viajei. Poderia dar-me por satisfeita, o que não me faz encarar a morte com placidez. Se amanhã um médico me disser que sofro de uma doença incurável, terei um ataque de coração o que, convenhamos, resolveria o problema. Mas, se isso não acontecer, quero ter a lei do meu lado. Gostaria que o debate sobre as questões aqui abordadas, o testamento vital, o suicídio assistido e a eutanásia, decorresse num clima sereno. Mas teremos de aceitar a discussão com todos os opositores, mesmo com aqueles que, por serem fanáticos, mais repulsa nos causam. Que ninguém se iluda: a análise destes problemas é urgente.

A autora deu uma entrevista a Mário Crespo, na SIC Notícias, no início do mês de Julho (creio que no dia 05); pode ver-se aqui.

domingo, 24 de julho de 2011

Programa da tarde.


Letters to Juliet (2010)

Em Verona, na Itália – a bonita cidade onde Romeu viu a sua Julieta pela primeira vez – há um lugar onde os que sofrem por amor deixam as suas cartas com pedidos de ajuda dirigidas a Juileta. É aí que a aspirante a escritora Sophie encontra uma carta escrita há cinquenta anos e que vai mudar a sua vida para sempre. No decurso de uma viagem romântica com a autora da carta, Claire, que agora é avó, e com o seu atraente neto, os três descobrem que, por vezes, a mais bela história de amor é a nossa própria história.

Férias.

Norwegian Wood



Esta noite, faz todo o sentido.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Boa noite.

Medo maior.


Mas nenhum medo é maior do que aquele que sentimos
da vida cheia, da vida vivida a todo peito.


Mia Couto

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Ausência.


Num deserto sem água,
Numa noite sem lua;
Num país sem nome
Ou numa terra nua,
Por maior que seja o desespero
... Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.


Sophia de Mello Breyner Andresen

Figurated Window, Salvador Dali


Números esclarecedores...

e angustiantes...

Where to go.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Legenda.


I dream. Sometimes I think that’s the only right thing to do.
To dream, to live in the world of dreams.

Haruki Murakami, The Sputnik Sweetheart.

Ditos.



Para ser insubstituível,
deve-se sempre ser diferente.

Coco Chanel

19 anos.



Paolo Borsellino nasceu em Palermo, no coração da Sicília, a 19 de Janeiro de 1940. Foi um ilustre juiz italiano que, em conjunto com Giovanni Falcone, lutou incansavelmente contra a máfia siciliana. Morreu a 19 de Julho de 1992, num atentado perpetrado com uma viatura armadilhada, menos de dois meses depois de Giovanni Falcone ter sido, também, assassinado.


«L'equivoco su cui spesso si gioca è questo: si dice quel politico era vicino ad un mafioso, quel politico è stato accusato di avere interessi convergenti con le organizzazioni mafiose, però la magistratura non lo ha condannato, quindi quel politico è un uomo onesto. E NO! questo discorso non va, perché la magistratura può fare soltanto un accertamento di carattere giudiziale, può dire: beh! Ci sono sospetti, ci sono sospetti anche gravi, ma io non ho la certezza giuridica, giudiziaria che mi consente di dire quest'uomo è mafioso. Però, siccome dalle indagini sono emersi tanti fatti del genere, altri organi, altri poteri, cioè i politici, le organizzazioni disciplinari delle varie amministrazioni, i consigli comunali o quello che sia, dovevano trarre le dovute conseguenze da certe vicinanze tra politici e mafiosi che non costituivano reato ma rendevano comunque il politico inaffidabile nella gestione della cosa pubblica. Questi giudizi non sono stati tratti perché ci si è nascosti dietro lo schermo della sentenza: questo tizio non è mai stato condannato, quindi è un uomo onesto. Ma dimmi un poco, ma tu non ne conosci di gente che è disonesta, che non è stata mai condannata perché non ci sono le prove per condannarla, però c’è il grosso sospetto che dovrebbe, quantomeno, indurre soprattutto i partiti politici a fare grossa pulizia, non soltanto essere onesti, ma apparire onesti, facendo pulizia al loro interno di tutti coloro che sono raggiunti comunque da episodi o da fatti inquietanti, anche se non costituenti reati.»

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Bons sonhos.

Por um pedaço de pão.

Durante o fim-de-semana, os noticiários trouxeram para dentro de nossas casas a crua realidade da miséria humana: cerca de meio milhão de crianças está em risco de morte iminente devido à seca que assola os países do denominado “Corno de África”.

Sem grande espanto, soubemos ainda que um dos países mais afectados por esta situação de emergência humanitária é a Somália onde, para além da seca – uma das piores das últimas décadas – e da quebra acentuada na produção dos alimentos (com o consequente aumento dos preços), se arrasta, há mais de 20 anos, um conflito armado que parece não ter fim.

Tragédias humanitárias comovem-nos sempre. A dor e o sofrimento dos outros, por muito distantes que estejam e por muito indiferentes que sejamos, não deixam de nos tocar; sobretudo quando os que mais sofrem são os mais indefesos, os mais vulneráveis, os que mais necessitam de protecção e de cuidado – as crianças.

Numa altura em que o mundo dito “desenvolvido” se vê a braços com uma crise económica profunda, com impactos sociais e humanitários, a capacidade de olhar para além do nosso universo, de se comover com a miséria alheia e de tentar fazer alguma coisa que minore o sofrimento dos outros exige um esforço redobrado, um desprendimento material, um altruísmo que ainda acredito não estar em vias de extinção.

Ao ouvir estas notícias, fico sempre de coração apertado e de alma negra e vem-me à memória, inevitavelmente, um excerto do célebre poema de Augusto Gil, que decorei, ironicamente, ainda menina: «…as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor? Porque padecem assim?”»

Possa a Europa colocar os olhos além do Mediterrâneo; possam os líderes dos países do “primeiro mundo” ser solidários; possam os cidadãos de tantos países em paz partilhar um pedaço de pão com os que nada têm.


A (Des)Vantagem do Casamento


A verdadeira desvantagem do casamento é que nos despoja do egoísmo. E as pessoas que não são egoístas são absolutamente desinteressantes. Falta-lhes individualidade. Contudo, há certos temperamentos que se tornam mais complexos com o casamento. Mantêm o egotismo e acrescentam-lhe muitos outros egos. São obrigados a ter mais que uma vida. Tornam-se mais eficientes na sua disciplina, e uma organização eficiente é, segundo creio, o objectivo da existência do homem. Além disso, toda a experiência é válida e, por mais que se fale contra o casamento, não deixa de ser uma experiência.

Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray

domingo, 17 de julho de 2011

A banda sonora da minha noite...

Idiota e feliz.

Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz, pergunta-me um leitor? Pois explico já. A idiotia e a felicidade são ideias muito vagas, difíceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia é susceptível de conferir ao idiota seu proprietário (ou seu prisioneiro) uma espécie de segurança em si próprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito próxima do que se pode chamar estado de felicidade.

Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Uma delas foi experimentada comigo. Uma parente minha queria por força reconverter-me ao Catolicismo e, deste modo, passava a vida a dizer-me: «Alexandre, não penses. Se começas a pensar estragas tudo. A crença em Deus, se, em vez de pensares, reaprenderes a rezar, vem por si. É uma graça, sabias? Vá, reza comigo.» E ensinava-me orações que eu, muitas vezes de mãos postas, repetia aplicadamente. Acabei por não me casar com ela. Não quero dizer, com isto, que não acredite na chamada (creio eu) revelação. Se revelação não existisse, como poderia um poeta do tomo de Paul Claudel entrar um dia em Notre-Dame e sentir-se, naquele preciso momento, convertido irresistivelmente ao Cristo e à irradiação da sua verdade e da sua beleza? E não pode afirmar-se que o grande poeta fosse um idiota.

Agora a minha parente era-o, de certeza, e queria fazer de mim outro idiota. Não por desejar reconverter-me, mas por aconselhar-me, como meio, o de eu não pensar, o de eu principalmente não pensar. Se tivesse casado com ela (que não era filha da minha lavadeira) talvez tivesse sido feliz - não se sabe - idiota e feliz. Assim, fiquei longos anos idiota e infeliz, infeliz por ser idiota e saber que o era e que não podia deixar de o ser. Ora, um idiota que é infeliz por saber que é idiota já pode estar a caminho de deixar de o ser. É uma possibilidade. É a tal luz no fundo do túnel, como se disse tantas vezes a propósito da situação económica deste idiota de país.

Não se espante, por conseguinte, o leitor de que um qualquer idiota possa, ao mesmo tempo, ser feliz. É, até, assaz corrente. Há idiotas que se consideram inteligentíssimos, o que é uma forma muito comum de idiotia, e extraem dessa certeza alguma felicidade, aquela maneira de felicidade que consiste em uma pessoa se julgar muito superior às que a rodeiam.

O leitor gostaria de ser ministro ou secretário de Estado? Pois fique sabendo que há quem goste, embora - será justo dizê-lo - também há quem o seja a contra-gosto, por dever partidário ou patriótico.

Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima como poder, é, quase sempre, um perigo.

Oremos.

Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.

Alexandre O'Neill, Uma Coisa em Forma de Assim.

Lido aqui

imagem de Lou and Flo

Domingo de manhã.

O valor do que desprezamos.


Despreza tudo, mas de modo que o desprezar te não incomode. Não te julgues superior ao desprezares. A arte do desprezo nobre está nisso.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de julho de 2011

domingo, 10 de julho de 2011

Silêncio.



Tant de choses ne valent pas d'être dites. Et tant de gens ne valent pas que les autres choses leur soient dites. Cela fait beaucoup de silence.*
 
Henry de Montherlant, Ides et calendes, 1950

[*Muitas coisas não merecem ser ditas e muitas pessoas não merecem que as outras coisas lhe sejam ditas: o resultado é muito silêncio.]

terça-feira, 5 de julho de 2011

A banda sonora da minha noite...

Definições.

A Noite não me Deu nenhum Sossego

Como voltar feliz ao meu trabalho
se a noite não me deu nenhum sossego?
A noite, o dia, cartas dum baralho
sempre trocadas neste jogo cego.
Eles dois, inimigos de mãos dadas,
me torturam, envolvem no seu cerco
de fadiga, de dúbias madrugadas:
e tu, quanto mais sofro mais te perco.
Digo ao dia que brilhas para ele,
que desfazes as nuvens do seu rosto;
digo à noite sem estrelas que és o mel
na sua pele escura: o oiro, o gosto.

    Mas dia a dia alonga-se a jornada
    e cada noite a noite é mais fechada.

William Shakespeare, Sonetos

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Bons sonhos.

imagem de Weheartit.

Aunque tu no lo sepas

imagem vista aqui
Como la luz de un sueño,
que no raya en el mundo pero existe,
así he vivido yo
iluminado
esa parte de ti que no conoces,
la vida que has llevado junto a mis pensamientos...


Y aunque tú no lo sepas, yo te he visto
cruzar la puerta sin decir que no,
pedirme un cenicero, curiosear los libros,
responder al deseo de mis labios
con tus labios de whisky,
seguir mis pasos hasta el dormitorio.


También hemos hablado
en la cama, sin prisa, muchas tardes
esta cama de amor que no conoces,
la misma que se queda
fría cuanto te marchas.


Aunque tú no lo sepas te inventaba conmigo,
hicimos mil proyectos, paseamos
por todas las ciudades que te gustan,
recordamos canciones, elegimos renuncias,
aprendiendo los dos a convivir
entre la realidad y el pensamiento.


Espiada a la sombra de tu horario
o en la noche de un bar por mi sorpresa.
Así he vivido yo,
como la luz del sueño
que no recuerdas cuando te despiertas.


Luis García Montero

Planos.

A banda sonora da minha noite...

domingo, 3 de julho de 2011

Crónica da vida que passa

Recentemente, entre a poeira de algumas campanhas politicas, tomou de novo relevo aquele habito de polemista que consiste em levar a mal a uma creatura que ela mude de partido, uma ou mais vezes, ou que se contradiga frequentemente. A gente inferior que usa opiniões continua a empregar esse argumento como se ele fosse depreciativo. Talvez não seja tarde para estabelecer, sobre tão delicado assunto do trato intelectual, a verdadeira atitude cientifica.

Se ha facto estranho e inexplicavel é que uma creatura de inteligencia e sensibilidade se mantenha sempre sentado sobre a mesma opinião, sempre coerente comsigo proprio. A continua transformação de tudo dá-se tambem no nosso corpo, e dá-se no nosso cerebro consequentemente. Como então, senão por doença, cair e reincidir na anormalidade de querer pensar hoje a mesma coisa que se pensou hontem, quando não só o cerebro de hoje já não é o de hontem, mas nem sequer o dia de hoje é o de hontem? Ser coerente é uma doença, um atavismo, talvez: data de antepassados animaes em cujo estádio de evolução tal desgraça seria natural.

A coerencia, a convicção, a certeza, são além disso, demonstrações evidentes . quantas vezes escusadas - de falta de educação. É uma falta de cortezia com os outros ser sempre o mesmo á vista deles; é maçal-os, apoquental-os com a nossa falta de variedade.

Uma creatura de nervos modernos, de inteligencia sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação celebral de mudar de opinião e de certeza varias vezes no mesmo dia. Deve ter, não crenças religiosas, opiniões politicas, predilêções literarias , mas sensações religiosas, impressões politicas, impulsos de admiração literaria.

Certos estados de alma de luz, certas atitudes da paisagem teem sobretudo quando excessivos, o direito de exigir a quem está deante deles determinadas opiniões políticas, religiosas e artisticas, aquelas que eles insinuem, e que variarão, como é de entender, consoante esse exterior varie. O homem disciplinado e culto faz da sua sensibilidade e da sua inteligencia espelhos do ambiente transitorio: é republicano de manhã e monarquico ao crepusculo; ateu sob um sol descoberto, é catolico ultramontano a certas horas de sombra e de silencio; e não podendo admitir senão Mallarmé áqueles momentos do anoitecer citadino em que desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo uma invenção de louco quando, ante uma solidão de mar, ele não souber de mais do que da "Odisséa".

Convicções profundas, só teem as creaturas superficiaes. Os que não reparam para as coisas quasi que as veem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os integros e os coerentes. A politica e a religião gastam d'essa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida.

Quanto é que despertaremos para a justa noção de que politica, religião e vida social são apenas graus inferiores e plebeus da estética - a estética dos que ainda não a podem ter? Só quando uma humanidade livre dos preconceitos de sinceridade e coerencia tiver acostumado as suas sensações a viverem independentemente, se poderá conseguir qualquer coisa de beleza, elegancia e serenidade na vida.

Fernando Pessoa, Crónicas da vida que passa, Ática, 2011.
[o texto foi transcrito tal como publicado originalmente, em 1915, na coluna d'O Jornal.]

Companhia para o almoço...