terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Gostava.

Gostava de escrever hoje um belo poema, forte, quente, luminoso, escarolado, em louvor da vida. É que, sem saber porquê, respondi há bocado com palavras dum optimismo impressionante a um moço poeta que me exibia a sua decadência precoce. E doía-me a garganta nessa altura! Mas fui-lhe dizendo que qual morte ou qual cabaça! Vida! Vida conquistada em luta, como a do rebendo do milho que empurra, e consegue levantar o torrão e ver o sol. - Qual morte, homem de Deus! Você já viu por um acaso um pinheiro suicidar-se?
Gostava de escrever isto num belo poema.

Miguel Torga

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