terça-feira, 24 de julho de 2012

Cartas a Um Jovem Poeta IV

«(…) Pouca coisa sabemos. Mas sempre sabemos que nos devemos ater ao que é difícil, e isso é uma certeza que nunca nos abandonará. É bom estar só, porque também a solidão resulta ser difícil. E algo que seja difícil deve ser para nós um motivo suplementar para o levar a cabo.

Também é bom amar, pois o amor é coisa difícil. O amor de um ser humano por outro: isto é, talvez, o mais difícil que já nos foi incumbido. É a prova suprema e derradeira, a tarefa final, ante a qual todas as outras não foram senão um ensaio. Por isso, não sabem nem podem amar ainda os jovens, que em tudo são principiantes. Hão-de aprendê-lo. Com todo o seu ser, com todas as forças reunidas em torno do coração solitário e angustiado que palpita alvoraçadamente – devem aprender a amar. Mas toda a aprendizagem é sempre um longo período de retiro e clausura. Assim, o amor é por muito tempo e até muito longe dentro da vida, solidão, isolamento crescido e aprofundado por aquele que se ama. Amar não é, em princípio, nada que possa significar absorver-se em outro ser, nem entregar nem unir-se a ele. Pois, o que seria uma união entre dois seres inacabados, falhos de luz e liberdade? Amar é antes uma oportunidade, um motivo sublime, que se oferece a cada indivíduo para amadurecer chegar a ser algo em si mesmo; para tornar-se um mundo, todo um mundo, por amor a outro.»

Rainer Maria Rilke, Cartas a Um Jovem Poeta [sétima carta, de 14 de Maio de 1904]

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