Até quando o mundo (dito civilizado) vai continuar a consentir na barbárie que o regime sírio de Bashar Al Assad está a perpetrar contra o seu próprio povo? Quantas mais mortes serão precisas, para além dos mais de 7.500 civis que, só na cidade de Homs, morreram no último ano às mãos dos algozes daquele ditador? Acaso duvidarão os responsáveis políticos das grandes potências mundiais que as imagens hoje divulgadas pela TV britânica “Channel 4” são reais? Para quem, há 21 anos, se mostrou tão solícito a libertar o pequeno “petrolado” do Kuwait das garras do Iraque, quantas mais imagens e relatos constantes dos jornalistas serão necessários para uma intervenção séria e decisiva?
Uma mão cheia de perguntas para outras tantas respostas vazias. Infelizmente, temo que o vídeo agora exibido pelo “Channel 4” não passe de um mero “trailler” deste filme de terror. Explique-se: um funcionário do hospital militar de Homs filmou às escondidas o que parecem ser pacientes torturados por electrocussão, chicoteados, com pernas e pés partidos, operados sem anestesia, atirados de cabeça contra as paredes, amarrados às camas e sem água.
O canal britânico ressalva que não foi possível confirmar, de fonte independente, a veracidade das imagens. Mas, pelo que já foi possível ver nas imagens dos bombardeamentos captadas pelos jornalistas internacionais, é bem provável que seja uma cruel realidade. Outros relatos de refugiados falam em execuções sumárias: os prisioneiros são, simplesmente, degolados pelos militares, como ouviram dois enviados da BBC àquela região. Um massacre sem fim à vista.
Os condenados a tal sorte são de todo o género, de civis revoltosos capturados pelas forças leais a Al Assad a soldados que se recusaram a acatar ordens. Um dos feridos terá apenas 14 anos.
Cidade-berço da revolta que o povo sírio tem travado contra o duro regime ditatorial de Bashar Al Assad, Homs tem no bastião rebelde de Bab Amro o seu local mais sangrento: alvo de violentos bombardeamentos ininterruptos, está isolado do resto do mundo. Nem a Cruz Vermelha Internacional ou o Crescente Vermelho sírio conseguem acudir aos milhares de feridos ali sitiados.
Todos os acordos internacionais para conflitos armados (é curioso que se façam regulamentos para situações em que se mata ou se morre) são claros quando referem que a ajuda humanitária deve ser facilitada pelas partes beligerantes. Perante isto, de que está o mundo à espera? Quantos mortos mais vai ser preciso inscrever nesta página sangrenta da história mundial? A apatia dos governantes perante a barbárie em curso na Síria mancha de sangue as mãos da comunidade internacional que, ainda que não consinta nesta crueldade sem nome, não reage, não a impede e, sobretudo, não auxilia as vítimas.
A minha crónica, publicada hoje no P3.
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