sábado, 28 de abril de 2012

Sábado.

Lá fora, há um ocaso, obscura jóia
engastada no tempo,
e uma recôndita cidade cega
de homens que não te viram.
A tarde cala ou canta. 
Alguém descrucifica os ansios
cravados no piano. 
Sempre a abundância da tua beleza 
A despeito do teu desamor, 
a tua beleza
prolonga o seu milagre pelo tempo. 
A felicidade mora em ti tal 
como a Primavera numa folha nova.
Não sou quase ninguém, 
sou apenas o anseio que se perde na tarde. 
Em ti mora o prazer
tal como a crueldade nas espadas.  

Carregando as persianas vem a noite.
Na sala tão severa,
como cegos, procuram-se uma à outra as nossas solidões,
Sobreviveu à tarde
a brancura gloriosa da tua carne.
No nosso amor há uma pena
parecida com a alma. 

Tu
que ainda ontem eras só toda a beleza
és agora também todo o amor. 

Jorge Luís Borges

Sem comentários: