Pietà
Vejo-te ainda, Mãe, de olhar parado,
Da pedra e da tristeza, no teu canto,
Comigo ao colo, morto e nu, gelado,
Embrulhado nas dobras do teu manto.
Sobre o golpe sem fundo do meu lado
Ia caindo o rio do teu pranto;
E o meu corpo pasmava, amortalhado,
De um rio amargo que adoçava tanto.
Depois, a noite de uma outra vida
Veio descendo lenta, apetecida
Pela terra-polar de que me fiz;
Mas o teu pranto, pela noite além,
Seiva do mundo, ia caindo, Mãe,
Na sepultura fria da raiz.
Lisboa, Cadeia do Aljube, Natal de 1939 -
Como se fosse ainda em S. Pedro de Roma.
Miguel Torga
4 comentários:
Maria de Deus,
Este poema de Miguel Torga é lindo. Comovi-me porque relembrei a dor e a aflição estampadas nos olhos da minha avo quando ia ao tenebroso Aljube visitar o meu tio.
Gosto muito de a ler e desejo-lhe, amiga, uma Pascoa feliz
Uma Santa Páscoa, doce e tranquila, é o que desejo na perpetuação de uma vida que se quer sempre feliz!
Cara Helena,
Obrigada pelas suas sempre doces palavras.
Também eu gosto de a ler e lhe desejo uma Santa Páscoa!
Um beijo!
Daniel,
Muito obrigada pelos seus votos, que retribuo integralmente!
Santa Páscoa!
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