sábado, 30 de abril de 2011
A banda sonora da minha noite...
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Sábado.
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pedaço de vida
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Noite de sonhos.
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O tempo e a sua falta.
dêmos tempo ao tempo,
mas aquilo que sempre nos esquecemos de perguntar
é se haverá tempo para dar.
José Saramago
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José Saramago
To explain it or not.
visto aqui |
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comportamentos
quinta-feira, 28 de abril de 2011
O que tinha de ser
Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher.
Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser.
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher.
Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser.
Tom Jobim
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Um corpo cheio de gente.
Não tenho amigos, não vivo com pessoas, não tenho conhecidos, não me dou com gente. Eu tenho pessoas que vivem dentro de mim e tenho pessoas em que eu vivo dentro delas. Vivo uma vida habitada com um corpo cheio de gente.*
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refúgios dos outros
My dreams.
Had I the heavens’ embroidered cloths,
Inwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.
William Butler Yeats
Inwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.
William Butler Yeats
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William Butler Yeats
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Peace.
imagem de Uwe Schmida |
Death must be so beautiful. To lie in the soft brown earth, with the grasses waving above one’s head, and listen to silence. To have no yesterday, and no tomorrow. To forget time, to forgive life, to be at peace.
Sylvia Plath, The Bell Jar
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Sylvia Plath
Fora de nós.
Tentamos achar nas coisas, que por isso são preciosas, o reflexo que nossa alma projectou sobre elas, e desiludimo-nos ao verificar que as coisas parecem desprovidas, na natureza, do encanto que deviam, em nosso pensamento, à vizinhança de certas ideias; e muitas vezes convertemos todas as forças dessa alma em habilidade, em esplendor, para influir em seres que situados fora de nós e que jamais alcançaremos.
Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido
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Marcel Proust
I'm coming.
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Deambulações pessoais
Regresso à minha escrita, às minhas palavras, ao meu modo de sentir e de descrever o mundo. Não sei por quanto tempo; tantos outros disseram de forma muito mais eloquente aquilo que o meu coração cala e que a minha boca emudece...
Todavia, há dias - todos temos... - em que, por muito que se procure, nada nem ninguém consegue descrever, ainda que de forma imperfeita, aquilo que me assola o espírito e que anseia por ser gritado aos quatro ventos. Nessas alturas, mais não me resta que passar para o papel o resquício palpável, a face (que se pode tornar) visível do turbilhão de emoções que preenchem o meu íntimo.
A complexidade do ser humano abisma-me: os estados de espírito, as incoerências, as paixões, os ódios, as inclinações inexplicáveis e as preferências previsíveis. É tudo demasiado complexo e forçosamente incompreensível.
Talvez por isso passemos (passamos? passamos.) a vida inteira a tentar prever o imprevisível. Antecipamos as reacções - e erramos; adivinhamos os gostos - e quase sempre nos enganamos; conjecturamos sobre os sentimentos dos outros - e na maioria dos casos, acabamos por fazer julgamentos precipitados e injustos.
A humanidade, com as suas qualidades e os seus defeitos, tem, seguramente, uma virtude. Consegue, apesar de tudo, ser sempre surpreendente.
Assustadoramente surpreendente.
imagem recolhida aqui |
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terça-feira, 26 de abril de 2011
I wonder...
visto aqui. |
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segunda-feira, 25 de abril de 2011
A banda sonora da minha noite...
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25 de Abril
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
Fernando Pessoa, O Infante, in Mensagem
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Fernando Pessoa,
memória
domingo, 24 de abril de 2011
Uma Páscoa feliz!
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sábado, 23 de abril de 2011
Os Meus Livros
Os meus livros (que não sabem que existo)
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.
Jorge Luís Borges
[Hoje é o Dia Mundial do Livro. Boas leituras.]
[adenda: descobri há pouco que a UNESCO instituiu, em 1996, o dia 23 de Abril como o Dia Mundial do Livro em honra a William Shakespeare e a Miguel Cervantes, falecidos ambos a 23 de Abril de 1616.]
São uma parte de mim, como este rosto
De têmporas e olhos já cinzentos
Que em vão vou procurando nos espelhos
E que percorro com a minha mão côncava.
Não sem alguma lógica amargura
Entendo que as palavras essenciais,
As que me exprimem, estarão nessas folhas
Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.
Mais vale assim. As vozes desses mortos
Dir-me-ão para sempre.
Jorge Luís Borges
[Hoje é o Dia Mundial do Livro. Boas leituras.]
[adenda: descobri há pouco que a UNESCO instituiu, em 1996, o dia 23 de Abril como o Dia Mundial do Livro em honra a William Shakespeare e a Miguel Cervantes, falecidos ambos a 23 de Abril de 1616.]
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Jorge Luís Borges
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Dia da Terra.
Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados
com granadas de mão.
As árvores são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados.
Não é o vento que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.
O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes.
As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.
Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.
Depois os lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.
António Gedeão, Poema da Terra Adubada
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memória
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Quando?
Quando é que o cativeiro
Acabará em mim,
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?
Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?
Quando, ao virar da esquina
De qualquer dia meu,
Me acharei alma digna
Da alma que Deus me deu?
Quando é que será quando? Não sei.
E até então
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão.
Fernando Pessoa
Acabará em mim,
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?
Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?
Quando, ao virar da esquina
De qualquer dia meu,
Me acharei alma digna
Da alma que Deus me deu?
Quando é que será quando? Não sei.
E até então
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão.
Fernando Pessoa
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Fernando Pessoa
terça-feira, 19 de abril de 2011
Às vezes.
Ele parou a meu lado, cabisbaixo. Parecia mais pequeno ainda. A barba tinha tons azulados na cara dele:
– Pois é… Nisso é que está o mal. Todos vão vivendo, sem se darem conta de nada, sem verem a miséria que há. E, mesmo que não houvesse miséria, serem verem a exploração do homem pelo homem, em que vivem e de que vivem.
Levantou a cabeça para mim, e havia nos seus olhos um tom líquido que me perturbou:
– Tu já pensaste como vivem aqueles pescadores? E a gente do campo? E os operários? Tu já pensaste?
Pensara às vezes.
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Jorge de Sena
Legenda
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comportamentos
Novas tecnologias.
O que eu detesto os portáteis xpto, os iPads, os Blackberrys, os iPhones e essa tralhada toda sem a qual já não conseguimos viver e que, no final das contas, nos tiram a vida...
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segunda-feira, 18 de abril de 2011
As escolhas.
Lembrar-me que inevitavelmente terei que morrer é a mais importante ferramenta que eu alguma vez encontrei para me ajudar a fazer as grandes escolhas na vida. Porque praticamente tudo - todas as nossas expectativas externas, todo o nosso orgulho, todo o nosso medo do embaraço ou fracasso - todas estas coisas simplesmente caem em face da morte, deixando apenas aquilo que é realmente importante. Lembrares-te que mais cedo ou mais tarde vais morrer é a melhor forma que eu conheço de evitar a armadilha de que temos alguma coisa a perder. Nós já estamos nus. Não existe nenhuma razão para não seguirmos o nosso coração.
Steve Jobs
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Steve Jobs
Porta.
porta
s. f.
1. Abertura para entrar ou sair.
2. Peça que fecha essa abertura.
3. Peça idêntica em janela, armário, etc.
4. Fig. Entrada; acesso; admissão.
5. Solução, expediente.
6. Espaço estreito e cavado por onde passa um rio.
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referências
Cancelled.
imagem encontrada aqui |
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perspectivas
domingo, 17 de abril de 2011
Crash
Hoje caíram-me pelo chão
as palavras que restavam,
as últimas,
que eram de vidro
e tinham a cor intensa
das noites de festa, dos dias que demoram.
Saltaram sobre os degraus
e mergulharam na sombra
desfeitas, inapreensíveis,
as minhas palavras
que eram as últimas
a demorar os dias
e a acender as noites.
Ivone Costa, aqui
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Ivone Costa,
refúgios dos outros
Endings and beginnings.
visto aqui |
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percursos
Coração
Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.
José Saramago
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.
José Saramago
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José Saramago
sábado, 16 de abril de 2011
Tudo depende de nós.
Hoje levantei-me cedo a pensar no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite. É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje. Posso reclamar porque está a chover, ou agradecer às águas por lavarem a poluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro, ou sentir-me encorajado para gerir as minhas finanças, evitando o desperdício. Posso reclamar sobre a minha saúde, ou dar graças por estar vivo. Posso me queixar dos meus pais por não me terem dado tudo o que eu queria, ou posso ser grato por ter nascido. Posso reclamar por ter que ir trabalhar, ou agradecer por ter trabalho. Posso sentir tédio com o trabalho doméstico, ou agradecer a Deus. Posso lamentar decepções com amigos, ou entusiasmar-me com a possibilidade de fazer novas amizades. Se as coisas não saíram como planeei, posso ficar feliz por ter o dia de hoje para recomeçar. O dia está à minha frente, à espera para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim.
Charlie Chaplin
[se fosse vivo, faria hoje 122 anos.]
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Charlie Chaplin,
memória
Yes, it is.
imagem vista aqui |
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perspectivas
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Ser GRANDE.
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis
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Ricardo Reis
Dificuldades.
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Música para embalar os sonhos.
Jack Savoretti.
O meu "João Pestana" desta noite...
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refúgios musicais
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Utopia.
visto aqui |
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divagações
Quero ver...
imagem de Mikel Lastra |
Quero ver
o fundo do mar
esse lugar
de onde se
desprendem as ondas
e se arrancam
os olhos aos corais
e onde a morte beija
o lívido rosto dos afogados
Quero ver
esse lugar
onde se não vê
para que
sem disfarce
a minha luz se revele
e nesse mundo
descubra a que mundo pertenço
Mia Couto
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Mia Couto
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Bons sonhos.
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pedaço de vida
As Amoras
O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade
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Eugénio de Andrade
Wednesday.
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instantâneos
terça-feira, 12 de abril de 2011
50 anos.
imagem recolhida aqui |
Yuri Gagarin
12 de Abril de 1961
[foi há cinquenta anos que este homem viajou por onde nenhum outro homem tinha ousado viajar: pelo espaço.]
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A música da noite.
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Sinusite.
Ana Meireles, tela a óleo sobre acrílico. |
Perguntam-me se estou deprimido
e eu gostava de responder
é do desemprego da guerra
do terrorismo
hoje porém vou dizer àqueles
que medem a rigor o fundo diâmetro
das minhas olheiras e tremem
um assassino existencialista
isto de estar deprimido
nada tem a ver com
o desemprego a guerra
o terrorismo
perguntam-me se estou deprimido
e eu digo é da sinusite.
O quê, da sinusite?
Sim, da sinusite.
A secular e devastadora sinusite, transcendente infecção
dos seios perinasais.
[relido hoje ao almoço, na Ler n.º 101, a minha gande companheira.]
e eu gostava de responder
é do desemprego da guerra
do terrorismo
hoje porém vou dizer àqueles
que medem a rigor o fundo diâmetro
das minhas olheiras e tremem
um assassino existencialista
isto de estar deprimido
nada tem a ver com
o desemprego a guerra
o terrorismo
perguntam-me se estou deprimido
e eu digo é da sinusite.
O quê, da sinusite?
Sim, da sinusite.
A secular e devastadora sinusite, transcendente infecção
dos seios perinasais.
Nuno Costa Santos
[relido hoje ao almoço, na Ler n.º 101, a minha gande companheira.]
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Nuno Costa Santos
Um pouco de ternura
Nos olhos dela habitava a bondade. Um doce sorriso embalava-lhe os lábios, e a face transparecia a tranquilidade interior de quem não fora punida pelo despeito nem agredida pelo ressentimento. Era ainda nova: vivia na linha de sombra que tenuemente divide a idade das pessoas, entre maduras e velhas. De onde viera? Que idade tinha? Ninguém sabia. Por vezes, pintava os lábios murchos. Por vezes, exibia largos decotes e mangas cavadas, eis o traço lascivo dos seios, eis os braços roliços, opulentos e sensuais. Era alta, quase imponente; porém, quando subia a rua íngreme, parecia alada, os pés quase não tocavam no chão.
Aparecera no bairro e logo se organizara uma aura de mistério em sua volta. Apesar da estatura, mantinha-se discreta e reservada, pouco falava com os vizinhos. Havia dias em que cantava; cantava alto velhas canções de amor. Nas tardes de sábado, os homens reuniam-se no clube, jogavam ao loto e à sueca e, ocasionalmente, embebedavam-se.
Ela residia num pequeno apartamento, mesmo por cima do clube. Gostava de se colocar à varanda, e os homens fitavam-na, gulosos, ávidos e sôfregos. Fingia não os ver. As mulheres remoíam raivas e amuos. Ela observava o horizonte, lá, onde o Tejo forma uma laçada, e permanecia assim: abstracta, atenta e exposta. Mas gostava que a apreciassem, e divertia-se com o ciúme das outras. Às vezes dançava ao som de uma pequena telefonia. Dançava como se estivesse a dançar com o mundo, ou, quem sabe?, a pensar em alguém que amara.
As geografias sentimentais são mais ou menos favoráveis: o bairro era bom e valia tudo o que de ele se dissesse; o resto era mau, e tudo o que de pior se dissesse nunca seria excessivo. Começaram as intrigas, as suposições pérfidas, as calúnias evasivas. Não lhe perdoavam a beleza, a dignidade da postura, a pequena viração de altivez que dela se desprendia.
Suspeitaram de tudo: que era prostituta, que vivia às custas de um proprietário de imóveis, que fazia números de nu em cabarés rascas. Chegou-lhe aos ouvidos a natureza insidiosa desses boatos. Não lhes atribuiu a menor importância, o que ainda mais arreliou as outras.
Saía de casa logo pela manhã, regressava tarde, ocasionalmente ausentava-se pela noite. Acumulavam-se as suspeições. Até que, certo dia, deixou de aparecer. O falatório aumentou. Coisas medonhas foram ditas, como se de verdades se tratassem. Correu o tempo; uma semana passou, outra, e outra ainda. Para onde fora? Que seria feito dela? E se ela não regressasse, não pudesse regressar ou não quisesse regressar?
Depois, houve quem a visse. Era numa tarde em que a chuva, lamentosa, caía forte. Desapareceu no cotovelo da rua, quem a viu acelerou o passo para descortinar aonde ela ia. Entrou num prédio alto e antigo, de azulejos, e ao perseguidor assaltou a ideia de que a vizinha misteriosa talvez fosse mulher-a-dias. Este indivíduo tivera, em tempos, a veleidade de se relacionar com ela; porém, fora rejeitado com uma frase breve e ríspida. Era o ressentimento que o incitara àquela infausta perseguição.
Horas e horas decorreram. A chuva deixara de cair, o homem encostara-se a uma árvore, sem abandonar a vigilância ao prédio. Até que, finalmente, ela reapareceu. Olhou em derredor e, rapidamente, aproximou-se da árvore onde o outro se ocultava. Atrapalhou-se, o homem. E ela disse:
— Quer saber o que eu faço, não é?
— Bom... bom... — Não sabia o que responder.
— Olhe: vendo ternura.
E desandou. Agora, uma brisa mansa, um vento acariciador, um pio de ave, e o silêncio. Era assim: todos os dias, ou quase, ela visitava casas de gente idosa, e recebia escassos euros para lhes ler jornais, revistas ou livros de histórias cordatas com finais felizes. Simplesmente um pouco de ternura.
Voltou à rua para se despedir da rua e ignorar as pessoas. As pessoas juntaram-se, viram-na subir o calçadão, puxar pelas pernas para escalar a escadaria enorme. Durante algum tempo pensaram nela. Nunca ninguém soube o seu nome, nem se foi feliz na vida.
Anos depois, um modesto cronista contou-a numa crónica humilde.
Armando Baptista-Bastos
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Armando Baptista-Bastos
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Legenda
Vivien Leigh e Clark Gable, Gone with the Wind, 1939 |
Não sei fingir que amo pouco,
quando em mim ama tudo.
Vergílio Ferreira, Para sempre
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Vergílio Ferreira
Novels.
A novel is a commodity that fulfills a certain need; people need to buy daydreams like they need to buy ice cream or aspirin or gin. They even need to buy a pinch of intellectual catnip now and then to liven up their thoughts….
John Dos Passos
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John Dos Passos
domingo, 10 de abril de 2011
Books.
Books.
People have no idea how beautiful books are.
How they taste on your fingers.
How bright everything is when you light it with words.
Rachel Kadish, Tolstoy Lied: A Love Story
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Rachel Kadish
sábado, 9 de abril de 2011
A banda sonora da minha noite...
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Comiseração.
Comiseração é ter-se a inteligência suficiente para perceber que há pessoas que projectam nos outros a [triste e distorcida] percepção que têm do mundo, é intuir-se que há gente que não dá para mais em termos de educação e respeito e alcançar-se a maturidade bastante para olhar e sorrir. Sem julgamentos de maior. Porque, convenhamos, há malta muito doente por aí. Não de cabeça, mas da alma. Só assim se entende. Claro que a alternativa é sempre o ignóbil e sórdido argumento do“mal fodidas”. Mas não. Não há mulheres mal fodidas. Só mal amadas, mal tratadas [pela vida, pelos outros]. E isso, sim. Isso merece compaixão.
[dito, ou melhor, escrito pela Maria. E subscrito por mim, na íntegra.]
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sexta-feira, 8 de abril de 2011
Não sei quantas almas tenho...
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Alberto Caeiro
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Alberto Caeiro
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Alberto Caeiro
Dia Internacional do Povo Cigano.
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O elogio.
O elogio tem o efeito de uma anestesia local no ego. Com a agravante do seu efeito permanecer por um tempo indefinido.
lido aqui
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quinta-feira, 7 de abril de 2011
Porque a vida é o que fazemos dela.
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