sexta-feira, 22 de abril de 2011

Dia da Terra.



Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados 
com granadas de mão.

As árvores são belas com os troncos dourados. 
São boas e largas para esconder soldados.

Não é o vento que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não. 
São os corpos dos soldados rastejando no chão.

O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes. 
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes. 

As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.

Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.

Depois os lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.

António Gedeão, Poema da Terra Adubada

1 comentário:

mfc disse...

E que mal tratada que ela anda... por alguns (muitos) de nós!