Pode uma vida ser trocada por outra(s)? Quanto vale MESMO uma vida? Se nos Estados Unidos da América (EUA), o lema é "não negociar" – seja com terroristas, seja nas prisões de alta segurança –, na Europa as gravatas da diplomacia entram primeiro em cena do que as armas.
Porém, no vulcão activo que é o Médio Oriente, nem sempre um mais um é igual a dois. Como se comprova facilmente através da libertação do soldado israelita Gilad Shalit, feito prisioneiro durante 1940 dias pelo Hamas. Telavive exigiu a liberdade de Shalit ao Hamas, mas teve de negociar. Exactamente: a troca por 1207 palestinianos detidos por Israel.
Desta vez, houve festejos de ambos os lados do muro (físico, religioso, cultural e político) que separa, naquela nesga de mundo, os dois povos. Israelitas e palestinianos, à sua maneira, saíram à rua para celebrar a liberdade.
Ainda sem saber o desfecho concreto deste episódio, Barack Obama, presidente dos EUA, afirmou que "a paz no Médio Oriente não se faz com resoluções da ONU". Estas palavras foram ditas precisamente a propósito do conflito israelo-palestiniano, na abertura dos trabalhos daquele organismo internacional.
Obama está coberto de razão. É urgente tomar medidas concretas que evitem o chamado "efeito borboleta", em que a perturbação interna num país afecta o planeta.
A violência à escala global a que assistimos diariamente é, nem mais, nem menos, o fruto do verdadeiro choque de civilizações gravado em alto-relevo nas páginas da História. É o resultado da já velha "guerra" entre o Ocidente liberal e o Islão radical. Para estes últimos, o Ocidente encarna o Diabo. Séculos a fio sob domínio colonial deixaram marcas profundas em inúmeros países da região, transformada, nas décadas mais recentes, em palco de renhidas disputas pelo controlo do mercado do petróleo, que o Ocidente quer abocanhar. E é sempre mais fácil dividir para reinar (no caso, fomentar guerras) do que respeitar as diferenças sociais, políticas e culturais. Obama disse, e bem, que os conflitos só se resolvem quando "uns se colocarem no lugar dos outros" para se respeitarem.
Esgotado o modelo de liberalização (cega) à escala mundial e com as abissais diferenças de condições de vida entre "uns e outros", entra em cena o apego à religião, facilmente transformado em fanatismo.
Será o século XXI marcado pelas clivagens geradas pelas religiões? Certezas não há, mas arrisco dizer que os principais conflitos serão alimentados pelo fanatismo e pela intolerância. As acções de muitos movimentos radicais, sobretudo islâmicos, giram em torno da religião. Mas é errado culpabilizar apenas um dos lados. A instrumentalização da fé existe no seio das sociedades islâmicas e também existe nas sociedades ditas liberais e democráticas.
A História diz-nos que os Direitos Humanos são um "invento" da Europa do século XVII, na qual o homem passa a estar voltado para si mesmo, para os seus direitos, liberdades e garantias. Valores que continuam a fazer todo o sentido – cada vez mais sentido – no Ocidente. Já no mundo islâmico, pelo contrário, é a pertença a uma comunidade e o sentido da honra a atingirem a primazia sobre o indivíduo. Diferenças que são causadoras de enormes fracturas sociais, políticas e culturais, até agora por sanar.
O respeito mútuo é, lamentavelmente, uma carta fora do baralho. Mas nada disto é culpa da religião islâmica ou do mundo árabe. É, tão-somente, decorrente da existência de grupos radicais e extremistas, que não olham a meios para atingirem os fins. Daí que se torne imperioso fazer essa destrinça, cabendo a todos, de parte a parte, reconhecer a necessidade de respeitar, como iguais, quem pensa, age e vive de maneira diferente. Por muito que custe.
Porém, no vulcão activo que é o Médio Oriente, nem sempre um mais um é igual a dois. Como se comprova facilmente através da libertação do soldado israelita Gilad Shalit, feito prisioneiro durante 1940 dias pelo Hamas. Telavive exigiu a liberdade de Shalit ao Hamas, mas teve de negociar. Exactamente: a troca por 1207 palestinianos detidos por Israel.
Desta vez, houve festejos de ambos os lados do muro (físico, religioso, cultural e político) que separa, naquela nesga de mundo, os dois povos. Israelitas e palestinianos, à sua maneira, saíram à rua para celebrar a liberdade.
Ainda sem saber o desfecho concreto deste episódio, Barack Obama, presidente dos EUA, afirmou que "a paz no Médio Oriente não se faz com resoluções da ONU". Estas palavras foram ditas precisamente a propósito do conflito israelo-palestiniano, na abertura dos trabalhos daquele organismo internacional.
Obama está coberto de razão. É urgente tomar medidas concretas que evitem o chamado "efeito borboleta", em que a perturbação interna num país afecta o planeta.
A violência à escala global a que assistimos diariamente é, nem mais, nem menos, o fruto do verdadeiro choque de civilizações gravado em alto-relevo nas páginas da História. É o resultado da já velha "guerra" entre o Ocidente liberal e o Islão radical. Para estes últimos, o Ocidente encarna o Diabo. Séculos a fio sob domínio colonial deixaram marcas profundas em inúmeros países da região, transformada, nas décadas mais recentes, em palco de renhidas disputas pelo controlo do mercado do petróleo, que o Ocidente quer abocanhar. E é sempre mais fácil dividir para reinar (no caso, fomentar guerras) do que respeitar as diferenças sociais, políticas e culturais. Obama disse, e bem, que os conflitos só se resolvem quando "uns se colocarem no lugar dos outros" para se respeitarem.
Esgotado o modelo de liberalização (cega) à escala mundial e com as abissais diferenças de condições de vida entre "uns e outros", entra em cena o apego à religião, facilmente transformado em fanatismo.
Será o século XXI marcado pelas clivagens geradas pelas religiões? Certezas não há, mas arrisco dizer que os principais conflitos serão alimentados pelo fanatismo e pela intolerância. As acções de muitos movimentos radicais, sobretudo islâmicos, giram em torno da religião. Mas é errado culpabilizar apenas um dos lados. A instrumentalização da fé existe no seio das sociedades islâmicas e também existe nas sociedades ditas liberais e democráticas.
A História diz-nos que os Direitos Humanos são um "invento" da Europa do século XVII, na qual o homem passa a estar voltado para si mesmo, para os seus direitos, liberdades e garantias. Valores que continuam a fazer todo o sentido – cada vez mais sentido – no Ocidente. Já no mundo islâmico, pelo contrário, é a pertença a uma comunidade e o sentido da honra a atingirem a primazia sobre o indivíduo. Diferenças que são causadoras de enormes fracturas sociais, políticas e culturais, até agora por sanar.
O respeito mútuo é, lamentavelmente, uma carta fora do baralho. Mas nada disto é culpa da religião islâmica ou do mundo árabe. É, tão-somente, decorrente da existência de grupos radicais e extremistas, que não olham a meios para atingirem os fins. Daí que se torne imperioso fazer essa destrinça, cabendo a todos, de parte a parte, reconhecer a necessidade de respeitar, como iguais, quem pensa, age e vive de maneira diferente. Por muito que custe.
Publicado hoje, aqui.
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