Há pouco menos de um ano (por ocasião das manifestações de 15 de Outubro de 2011), acreditava (e disse-o aqui) que, num momento como o que então vivíamos, a forma de ultrapassarmos as dificuldades não passava pela saída para a rua, não envolvia gritos de revolta (ainda que justamente a sentíssemos) nem palavras de ordem contra isto ou aquilo; naqueles tempos, considerava eu dever haver, de todos e de cada um de nós, um particular sentido de responsabilidade.
Passou quase um ano. Nesse entretanto, as nossas vidas foram verdadeiramente retalhadas. Baixaram-se salários, cortaram-se subsídios (que, em abono da verdade, eram componente da remuneração); aumentaram os impostos, a electricidade e os bens de primeira necessidade. Os combustíveis dispararam para preços absolutamente proibitivos.
As consequências destas medidas – consideradas necessárias e, apesar de tudo, relativamente aceites pelos portugueses – foram e são brutais: milhares de pessoas deixaram de poder pagar as suas casas ao Banco e ficaram sem um tecto onde viver; muito do tecido empresarial deste país parou de funcionar, apresentou-se à insolvência e deixou no desemprego todos os seus trabalhadores; inúmeras famílias deixaram de ter um espaço a que pudessem chamar seu e passaram a dividir a casa com os pais, os tios e os avós, para cortar nas despesas; o número de desempregados aumentou para valores nunca vistos – são muitos os casais que, hoje, não sabem como alimentar os seus filhos. A estabilidade profissional não existe. A pobreza, verdadeira, bateu à porta de muitos e está à espreita para outros tantos.
Apesar de tudo, até agora eu ainda via nos olhos dos que comigo se cruzam diariamente a centelha da esperança, a vontade de lutar, o desejo de ultrapassar as dificuldades. Agora, nem isso.
Na sexta-feira passada (7 de Setembro), o país foi confrontado com novas medidas de austeridade, a afectar os “do costume”. Medidas duras, que assentam numa (mais uma) significativa redução do rendimento disponível das pessoas.
Confrontada com a suposta inevitabilidade de tudo isto e com as desconfianças que todos temos em relação ao sucesso desta empreitada, uma pergunta persiste, desde então, em me inquietar: Que país, que futuro, que vida estou eu a construir para o meu filho?
É nele que penso. É a busca incessante daquilo que sonhei para ele (muito mais do que o que sonhei para mim própria) que me move, todos os dias, todas as horas, todos os minutos. Por isso, por ele mais do que por mim, não posso continuar apática e submissa. Chegou a hora. Li o “post” de Myriam Zaluar no Facebook, que dizia: “Sábado começo a mudar o mundo”. Eu vou com ela.
A minha crónica de hoje, no P3.
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