Toda a poesia é feita de traição
e ao que somos fiéis já não sabemos:
da terra de que vimos só retemos
memórias que nos duram sem razão.
Escondemos na poesia o que não sabe
seu nome nem seu canto na memória:
escondemos na poesia não vitória,
mas restos de viver, o que não cabe
na fria tábua rasa da experiência
destilando sem fim na consciência
o mais fino licor da emoção.
É infiel ao verso a poesia:
nela se apura a noite contra o dia
e a nós mesmo nos trai no coração.
Luís Filipe Castro Mendes