Ainda cá estou. Sempre eu.
Chego à conclusão que tudo na vida muda, o mundo é feito de mudanças e os homens têm uma capacidade de adaptação incomensurável.
Sou independente. Ou, pelo menos, quero crer (e fazer crer) que sim. Vim viver sozinha.
Há já quase um mês que mudei de cama, de sofá, de paisagem matinal.
Escrevo-te deitada numa cama forrada a lençóis beijes - a minha cama.
Esta é, tão-somente, mais uma das minhas recorrentes noites de insónia. E lembrei-me de ti. Lembrei-me porque pensar em ti, desfolhar-te, é lembrar tudo o que já fui, o que passei, o que passou.
Lido, hoje tudo parece tão distante... e, no entanto, tudo permanece: as personagens, o enredo, os sentimentos, o desejo.
Sou uma mulher insatisfeita de afectos. E não posso dizer que os tenha parcos... Vivo de ilusões, de momentos, de fantasias... Sonho que ele vai tocar à porta de surpresa, quando sei perfeitamente que nunca virá sem avisar. Anseio ouvir as palavras que ele não diz. Recordo com saudade os passeios que não fizemos, os abraços que não demos, os planos que não se concretizaram.
Mas se a mente analisa, pondera e, avaliando, conclui, o coração está-se nas tintas!
Este amor sabe a sal... Tempera-me a vida, dá sabor aos momentos que me alimentam o dia-a-dia. Mas arranha. Corta o coração.
A ansiedade às vezes é tanta que sinto o coração a saltar do peito.
Ouve a cabeça, coração. Ela sabe o que diz: nada esperes, nada sonhes, nada anseies. Deste modo, o que vier é sempre bom.
Desculpa este desabafo estranho, mas estranha é como eu me sinto.
Uma estranha, dentro da minha própria vida.
[nova tentativa de prosa. mais uma.]