segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Falta cumprir-se a Europa

Os líderes da Zona Euro estiveram reunidos em Bruxelas no passado dia 21 de Julho, em Cimeira Extraordinária (CE), em que o principal ponto de discussão foi a tentativa (alcançada) de encontrar uma solução para a crise da dívida grega e de evitar o tão falado - e sentido - contágio a outros países; mas a CE teve intuitos que extravasam em muito a superação da instabilidade financeira de alguns dos membros da União Europeia (UE).

Em bom rigor, o que esteve em causa nesta CE - e o que será determinante nos tempos mais próximos - foi a capacidade de a Europa, a uma só voz, fazer frente aos desafios que a esperam. O futuro da UE, nos moldes em que hoje a conhecemos, foi e é o mote para a discussão e a decisão quanto a matérias tão estruturantes como a capacidade de alguns dos seus Estados de se governarem e/ou de serem governados, a bem de todos.

Foram deliberadas nesta CE medidas de apoio à economia helénica, apelidadas de “excepcionais” pelo presidente francês; há quem denomine estas novas resoluções de “Novo Plano Marshall para a Grécia”. Tudo isto com o grande desiderato de aplacar a fúria dos mercados internacionais (ou das agências de notação…). No entanto, a pressão dos meios financeiros mantém-se firme, agora também sobre a Itália e a Espanha, o que parece significar que a suposta “mensagem de solidariedade” transmitida até agora não foi ainda suficiente, mesmo que se acredite - como eu - que a actual crise financeira possa ser ultrapassada com sucesso.

O que falta definir e concretizar (e urge fazê-lo) é o modelo de integração desta UE. Temos uma Europa descorada, esbatida, com demasiadas decisões em sentidos divergentes; esta “desunião” impossibilita um maior crescimento e uma capacidade de reacção coerente e segura aos tempos difíceis que atravessamos.

Não faltam vozes a clamar por uma solução de cariz mais federalista, ainda que os interesses de cada um dos Estados-Membros tenham, nesta como em tantas outras matérias, uma palavra importante a dizer. Mas importa decidir, e há que fazê-lo rapidamente.

Robert Schuman - o “Pai” da Europa - disse em 1950 que «a paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços criativos à altura dos perigos que a ameaçam. […] A Europa não se fará de uma só vez, nem numa construção de conjunto: far-se-á por meio de realizações concretas que criem primeiro uma solidariedade de facto.»

Está na altura de ser dado mais um passo no sentido da construção de uma verdadeira Europa, mais unida, mais coerente, mais sólida. Para que não seja a própria Europa a destruir os seus Estados.

[MDB]. Publicado hoje no Público.
























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