sábado, 13 de agosto de 2011

Há cartas...

Marcelo foi transferido para Mutarara, cidade que ficava além de todo o outro lugar. A mulher, Nurima, ficou sozinhando-se, tomando conta das coisas e da restante vida. A espera é uma tecedura, a gente cria presenças com materiais de ausência. Os dedos de Nurima desinventavam dias, em desconto de saudades. A esposa: habituada, não habitada.

Até que, uma certa tarde, chegou de Mutarara a inesperada visita. Era Florinda, familiar sem parentesco certo. Entrou, sentou, espraiou aqueles silêncios que antecedem as grandes falas. Depois disse:

- Quero lhe avisar: há cartas.

Mia Couto, Na Berma de Nenhuma Estrada

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