segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Canção da Alta Noite


Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar...- enquanto consente
Deus que seja a noite andada.

Porque o poeta, indiferente,
andar por andar - somente.
Não necessita de nada.

Cecília Meireles

[porque se comemoram hoje 110 anos do seu nascimento.]

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