Era uma vez uma Lua presunçosa, que se julgava a grande descobridora do caminho celeste para o sexo. Sempre que observava um par de namorados a fazer amor ao luar, inchava de vaidade e espicaçava o vendo para que expulsasse do céu alguma nuvem mais afoita que pudesse tapar-lhe a visão e o triunfo. Com o passar do tempo e o aumento da arrogância da Lua, se tornou cada vez mais freqüente que a aparição do amor redundasse numa zoaria entre a Lua, o vento e as nuvens, produzindo uma agitação tal que acabava por enxotar também os amantes, lá na Terra, resfriados. Inocentes, científicos, os amantes, cada vez mais maltratados pelos elementos, queixavam-se da poluição e do aquecimento global. Nos dias sem luar, as estrelas julgavam-se donas do sexo dos homens – mas perto do mar, sofriam ainda da forte competição de um coro de sereias que, embora velhinhas, trôpegas, roucas de tantos séculos a desviar marinheiros, mantinham um travo erótico na voz que levava os amantes a se imaginarem no Paraíso, e elas a se pretenderem as únicas e genuínas descobridoras do caminho marítimo para o sexo. Uma delas assustou certa vez um par enlaçado, que, olhado as ondas, a enxergou, de cabeleira desgrenhada e com uma venda de pirata num olho. Tratava-se de uma recordação sentimental de um pirata particularmente garboso – mas as outras sereias não quiseram saber de sentimentos e aposentaram-na compulsivamente, enviando-a para um museu, nas profundezas do oceano.
No fundo, a petulância da Lua não era mais do que uma conseqüencia do desamor do Sol por ela, que se punha a fugir mal a via aproximar-se. Também o amor dos seres humanos pela Lua e pelas estrelas é fruto da enorme distância que os separa. Talvez por isso, é infinito. Como o sexo.
Inês Pedrosa, A Eternidade e o Desejo.
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