quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Todos os muros vão cair

Há precisamente 22 anos (09 de Novembro de 1989) caiu o Muro de Berlim. Considerado como o símbolo maior da Guerra Fria – que opôs os Aliados (defensores do capitalismo) à URSS (apologista do socialismo, que acabaria, também ela, por ser extinta dois anos depois) –, foi derrubado depois de 28 longos anos de opressão, violência e divisão de mais de quatro milhões de nacionais de um mesmo país, detentores de uma mesma identidade.

A queda do Muro de Berlim representou muito mais do que o fim do comunismo. Evidenciou, sobretudo, a vontade de um povo em banir fronteiras artificiais, impostas, de cariz separatista. De facto, a tenacidade dos germânicos fez com que se tornasse real a queda deste muro que dividiu uma cidade a meio, separou casas, prédios, ruas, casais, famílias e amigos. Tinha 66,5 quilómetros de extensão, gradeamento eléctrico, valas para dificultar a sua passagem e 302 torres de vigia com guardas prontos a disparar à mínima tentativa de passagem não autorizada. E diz-se que 1.065 pessoas foram mortas na tentativa de o ultrapassar. São demasiados mártires deste período menos feliz da nossa História, a somar a tantos outros.
imagem de Leonor Barros, aqui.

Hoje, atenta a importância deste acontecimento, cerca 40 países de todos os continentes do Mundo guardam um pedaço do famigerado Muro de Berlim. No entanto, esta lembrança pouco mais é do que um simples “souvenir”. Assim como ainda existem partes do Muro de Berlim que permanecem de pé, tantos muros subsistem também, erguidos mundo fora, bem alto, que separam povos, culturas e ideologias e que violam os direitos fundamentais mais elementares. Três exemplos, apenas meros exemplos: o muro da Cisjordânia, construído em 2002, declarado ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça de Haia dois anos depois e que, apesar disso, se mantém de pé, símbolo de segregação a pretexto de razões de segurança; o muro que separa o México dos Estados Unidos da América, com cerca de 965 quilómetros, erguido em 1994 e que já fez mais de 6.000 vítimas mortais; o “muro” de água que isola, até hoje, Cuba do resto do mundo, mantendo os seus cidadãos reféns de uma ideologia castradora, autoritária e opressiva.

João Paulo II, em 1990, a propósito da queda do Muro de Berlim, escreveu que “[…] as liberdades fundamentais, que dão significado à vida humana, não podem ser reprimidas nem sufocadas por muito tempo”. Eu acredito nisto. Estou certa de que nenhuma divisão, seja ela física ou (meramente) virtual, pode impedir os seres humanos de pensar, questionar, lutar e querer. Mais tarde ou mais cedo, todos os muros vão cair.

Publicado hoje, aqui.

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