Tenho para mim (e já tinha esta convicção antes de ser Mãe), que nenhuma criança é “normal”. Considero, aliás, que a palavra “normalidade” é desprovida de significado quando aplicada àqueles pequeninos seres. Todos são diferentes, todos: há os mais enérgicos e os mais tranquilos; os mais faladores e os mais tímidos; há os mais reguilas e os mais obedientes; os mais espertos e os que necessitam que lhes dediquemos um bocadinho mais da nossa atenção para conseguirem captar todas estas coisas próprias do mundo dos adultos… Enfim, nem os gémeos homozigóticos serão idênticos em tudo, todas as crianças têm as suas particularidades, os seus traços característicos de personalidade e, sobretudo, a sua própria forma de encarar o mundo e os outros. Por isso, tenho alguma resistência na colocação de rótulos nas crianças (tão comum nos dias que correm): se a criança é afectuosa e é rapaz, vai ser maricas; se a criança é agressiva, é disfuncional - e a culpa é da família; se a criança é viva e gosta de brincar, é hiperactiva; se a criança é sossegada, é um totó e não vai dar nada na vida; se a criança aprende depressa, é um génio; se aprende devagar, é retardado. Estarei a generalizar, é possível. Mas, se pensarmos bem, não ando muito longe da verdade, pois não?
Pois é. O que se passa com as crianças é exactamente o que se passa com os adultos: cada um deles é um ser humano único e irrepetível, com características próprias que o distinguem de todos os demais; a diferença está no facto de nós, adultos, tendermos a seguir, com maior ou menor rigor, as regras (pre)estabelecidas para a vivência em sociedade, por medo de exclusão, enquanto que as crianças, porque ainda estão a salvo desta “lavagem cerebral”, são únicas, verdadeiras, sinceras e transparentes.
Nós, os adultos, tendemos a adaptar-nos ao meio ambiente em que nos inserimos, por uma questão de sobrevivência; as crianças não fazem - e ainda bem - esse (maldito) esforço de adaptação. E por isso, no relacionamento das crianças com os adultos, há algumas “bolachinhas que não cabem na caixa”. O que fazer quanto a estas crianças, que por razões várias, são mais especiais ainda do que todas as outras?
Sou apologista da inclusão, do acompanhamento em grupo, do esforço - que tem e deve ser feito por todos: pais, avós, educadores, acompanhantes… - para a integração destas crianças, a quem eu apelido de “bolachinhas com creme”.
É por terem “creme” que não cabem na caixa. Temos de ser nós (gente crescida) a voltar a ser crianças, para “lamber” com muito cuidado o “creme” destes anjinhos e ajudá-los, devagarinho, a entrarem na caixa. Na nossa ou noutra qualquer. Ou em nenhuma. Mas, pelo menos, a ajudá-los a serem felizes. Connosco.