Ficámos nós os dois, parados, de mão dada.
Como podem só os dois governar um barco?
Melhor é desistir e não fazermos nada!
Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
Tornamo-nos reais, e de maneira, à proa.
Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos
Por entre nossas mãos, o verde mar se escoa
Aparentes senhores de um barco abandonado,
Nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem
Aonde iremos ter? - Com frutos e pecado,
Agora sei que és tu quem me fora indicada.
O resto passa, passa alheio aos meus sentidos.
Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada,
A eternidade é nossa , em madeira esculpidos!
David Mourão Ferreira