«Talvez a morte tenha mais segredos para nos revelar que a vida.»
Gustave Flaubert
Cemitério de Arlington, Washington. Imagem retirada daqui. |
Nunca tive medo da morte.
Sempre achei (e continuo a achar) que não chegarei a ser velhinha, que irei morrer cedo, de forma rápida e indolor. De todo o modo, a morte nunca foi para mim um tema assustador ou desagradável. Não me assusta falar do assunto, pensar no que está - ou deixa de estar - do lado de lá (seja ele qual for e se é que, de facto, existe algum), nem sequer me entristece o que ficará deste lado depois da minha partida.
Para mim, falar da morte é tão natural como falar de cidades que visitámos ou de coisas de que gostamos ou que nos desagradam. A morte é parte integrante da vida, todos nós, mais tarde ou mais cedo, lidamos com a perda de alguém querido.
É doloroso ver partir aqueles que amamos, sobretudo quando o processo é lento e agoniante. E por muito longa que possa ser a doença que acaba por fazer partir aqueles que nos são próximos, nada nos prepara para a dor avassaladora que sentimos no momento da sua morte.
Sei de tudo isto, infelizmente, por experiência pessoal. O luto é um processo longo, muito dorido, demasiado perturbador. Mas todos somos obrigados a vivê-lo, porque a morte é um elemento natural e inevitável da nossa humanidade.
E os que cá ficamos, sofrendo de dor e de saudade que não terminam nunca, acabamos por, mais tarde ou mais cedo, retomar o nosso dia-a-dia, as nossas rotinas, os nossos hábitos sem a presença daquele que morreu. Todos sobrevivemos. E todos ficamos bem.
As mulheres e os maridos ficam viúvos, os pais perdem os seus filhos, os netos vêm partir os seus avós queridos, os filhos tornam-se órfãos. Mas a vida continua, os que ficam cuidam dos que estão ao seu lado e deles necessitam - todos se amparam uns aos outros (no meu caso foi assim). E cuidámos todos muito bem, porque o amor falou mais alto.
De facto, a dor partilhada une, muitas vezes, mais do que a alegria vivida em conjunto.
Por isso, quando um dia eu morrer, sei que o meu Filho, o meu Marido, a minha Avó, os meus Pais e Sogros, a minha Irmã, os Tios e Primos (de sangue e de coração) e os meus Amigos que são para mim como família, vão ultrapassar a minha partida e seguir em frente, com esperança e vontade de viver o amanhã.
Assim como eu continuo (até hoje...) a ouvir o barulho das chaves que o meu Avô chocalhava ao entrar em casa de todas as vezes que a porta bate, provavelmente cada um deles permanecerá, por muito tempo, preso aos pequeninos (grandes) hábitos que tenho e partilho com os que me são próximos. Mas, com certeza, seguirão em frente.
Porque depois da morte, subsiste a Vida. A dos que ficam, e que continua.
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