Adoro chocolate. Mas só negro. Preto, amargo, quanto mais melhor. É-me difícil (quase impossível) resistir àqueles quadradinhos castanho escuro que, de todas as vezes que os olho, sinto que me imploram para se derreterem na minha boca.
Contudo, sempre que como chocolate, vem-me à memória o excerto do poema de Álvaro de Campos que, de forma magistral, retrata, mais do que a simplicidade do acto de comer chocolates, a inocência das crianças e o que perdemos com o crescimento.
Por isso, e também sempre que como chocolate, faço um esforço por me sentir pequenina outra vez, inocente e pura, sem angústias, sem complexos, sem medos. E lambuzo-me verdadeiramente, na esperança que a criancice retorne e eu volte a ser tão feliz quanto era nesse tempo, mesmo sem saber.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Álvaro de Campos, Tabacaria
[o texto integral do poema pode ser lido aqui]
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