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Quem me conhece, sabe que um dos melhores presentes que me podem oferecer é um livro. Os livros têm a mágica virtualidade de nos transportarem para mundos desconhecidos, de nos permitirem viver outras vidas, outras experiências, outros sentimentos. Os livros - os bons livros, de escritores ricos e profundos que têm a capacidade de passar para o papel as emoções indizíveis - são verdadeiras obras de arte. E folheá-los, desfolhá-los, escolhê-los, comprá-los e lê-los constituem para mim verdadeiros rituais, nos quais utilizo cada um dos meus cinco sentidos.
Assim que tenho um livro na mão, o primeiro dos meus sentidos a procurar descobri-lo é o tacto: passo os dedos pela capa, pela contra-capa, pela lombada. Sinto o relevo do título que por vezes é impresso de forma saliente e toco em cada uma das suas folhas, como se de um baralho de cartas se tratasse.
Depois, deixo que o olfacto me revele o livro: gosto do cheiro da tinta impressa nas folhas, do papel utilizado, das tiras publicitárias que às vezes os envolvem.
De seguida, vem a audição: agrada-me o som característico do folhear de cada página; mas, sobretudo, adoro escutar o que o livro tem para me dizer. Acreditem em mim: um livro, um qualquer livro, fechado ou aberto, fala connosco. E nem imaginam o que ele é capaz de nos contar, se o encostarmos bem ao nosso ouvido e deixarmos que ele se nos confesse.
Naturalmente, a visão tem um papel importante a desempenhar em tudo isto: é através dela que leio a crítica, o sumário, o prólogo e algumas notas biográficas sobre o autor (que, felizmente, já vão sendo colocadas na maioria dos livros...).
Intimamente relacionado com a visão está, por fim, o paladar: eu saboreio (ainda que metaforicamente falando) cada palavra, cada expressão, cada frase que vou lendo en passant em cada livro que tenho pelas minhas mãos.
Mas o momento determinante - concretamente no que toca à decisão de trazer o livro para casa - não decorre de nenhuma das sensações que cada um dos meus cinco sentidos me vai proporcionando no ritual que acabei de descrever, antes deriva de um sentimento, de uma necessidade, de uma força interior que me impele e me aguça o espírito. Eu chamo-lhe ímpeto e é através deste que surge a minha vontade, o meu desejo de ler o livro em causa. São inúmeras as coisas que despertam este sentimento: o título, a grafia, o tamanho da letra do corpo do texto, a qualidade do papel utilizado, a capa...
São todos estes factos, sozinhos ou em conjunto, que, assimilados pelos meus sentidos, tomam conta de mim própria e, em vez de mim, entram em conluio. E é por eles, só por eles, que eu adoro livros. E tenho tantos. E quero mais. E compro sempre.
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